Título: 'De volta ao calvário', senador descarta hipótese de renúncia
Autor: Samarco, Christiane
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/07/2007, Nacional, p. A4

Renan insiste em que não perdeu as condições de continuar no cargo

O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), viveu ontem o pior de seus últimos 34 dias, desde 31 de maio, quando ele mesmo encaminhou ao Conselho de Ética a representação do PSOL em que figura como réu. ¿Está muito ruim¿, resumiu José Sarney (PMDB-AP), que, depois de uma olhadela rápida no plenário, no meio da tarde, tomou o elevador e bateu em retirada sem falar com ninguém.

Já em plenário, depois das três derrotas na reunião da Mesa, Renan foi obrigado a assistir e a responder a discursos de adversários e ex-aliados, como o líder tucano Arthur Virgílio (AM), que engrossou o coro dos parlamentares do DEM em favor de sua renúncia à presidência da Casa. ¿Com serenidade e reflexão, entendo que devo permanecer na presidência do Senado Federal, mesmo que com isso contrariem-se apetites políticos de ocasião¿, reagiu Renan da cadeira de presidente, dirigindo-se a Virgílio para dizer que ¿serenidade e reflexão são pressupostos das grandes decisões¿.

Pouco antes de assumir o comando da sessão plenária, Renan repetira aos jornalistas que ¿jamais, jamais¿ pensara em afastamento. ¿Não arredarei o pé daqui¿, repetiu. Mas aos senadores, em plenário, sua fala foi em outro tom. Ele afirmou que não é movido ¿por um sentimento desarrazoado de teimosia neste grave momento¿. Lembrou sua formação democrática e a ¿fé inabalável¿ no Estado de Direito, que o fazem respeitar manifestações partidárias. ¿Mesmo quando delas guardo frontal divergência¿, ressaltou. Destacou, no entanto, que ¿sucumbir à sedução de um pseudoclamor é atitude incompatível com a coragem e a honradez que devem pautar a conduta dos homens públicos¿.

No início da noite, a avaliação de Renan foi de que, se por um lado não conseguira chegar ¿ao céu¿, arquivando a representação do PSOL na Mesa, também escapara do ¿inferno¿ de ser desautorizado pela maioria dos 80 senadores, em voto aberto. Seus próprios aliados crêem que seria isso o que ¿fatalmente ocorreria¿, caso a Mesa levasse a exame do plenário sua decisão de devolver a representação do PSOL ao conselho.

¿Estou no purgatório, de volta ao calvário do conselho, mas não perdi as condições de continuar na presidência¿, analisou Renan em conversa com um peemedebista. Abordado por jornalistas depois de a bancada do PSDB ter pedido sua licença, ele quis se mostrar imune a pressões. ¿Me sinto inteiramente à vontade. Já fiz a prova contrária e estou disposto a repeti-la se for necessário.¿

Sua ofensiva junto à Mesa para arquivar o processo deixou claro, porém, que os apoios mínguam a cada dia. Não houve sequer ambiente para levar a tese do arquivamento a discussão. ¿O Renan foi abandonado. Só o Tião se manteve firme a seu lado na Mesa¿, resumiu um dos participantes da reunião, referindo-se ao vice-presidente do Senado, Tião Viana (PT-AC).