Título: Roriz dividiu os R$ 2,2 mi em galpão do 'rei do entulho'
Autor: Mendes, Vannildo e Filgueiras, Sônia
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/07/2007, Nacional, p. A6

`Tive até medo ao ver aquele montão de gente armada¿, conta o dono da área, que afirma ter emprestado local a pedido de um assessor do senador

O dono da Nely Transportes, Osvaldino Xavier de Oliveira, que se intitula ¿o rei do entulho¿, afirmou ontem que sua empresa foi o local onde houve a partilha dos R$ 2,2 milhões da qual teria participado o senador Joaquim Roriz (PMDB-DF). Osvaldino contou que o empréstimo do espaço foi pedido por Valério Neves Campos, assessor especial do senador. ¿Fiz um favor a um amigo¿, disse ele, referindo-se a Valério.

O dinheiro, segundo o empresário, chegou ao pátio de sua empresa, no Setor de Transportes Rodoviários e de Cargas de Brasília, num carro-forte amarelo, guarnecido por vários seguranças armados. ¿Tive até medo ao ver aquele montão de gente armada¿, relatou Osvaldino.

A seguir, Valério lhe teria pedido uma sala para a contagem e separação das notas. Parte do dinheiro iria para Roriz e a outra seria devolvida ao empresário Nenê Constantino, dono da empresa aérea Gol, que teria feito um empréstimo ao senador. Roriz alega ter retirado só uma parte, R$ 300 mil, para a compra de uma bezerra. Esse valor seria um empréstimo de Constantino, a quem teria sido destinado o R$ 1,9 milhão restante.

Osvaldino explicou que presenciou apenas de longe a contagem do dinheiro. Os maços de notas teriam sido divididos em duas sacolas. Na maior, ele supõe ter sido colocado o R$ 1,9 milhão destinado a Constantino. Na sacola menor, ¿do tamanho de uma bíblia¿, segundo o relato, estariam os R$ 300 mil.

Investigado pelo Ministério Público por suspeita de ser laranja de Roriz, Osvaldino se definiu como um goiano trabalhador e de hábitos simples. ¿Minha especialidade é entulho. Trabalho no ramo há 25 anos.¿

O patrimônio da Nely Transportes, porém, cresceu muito nos quatro mandatos de Roriz no governo do Distrito Federal. O capital da empresa registrado na Junta Comercial de Brasília é de R$ 3 milhões, mas pode estar subavaliado.

Por conta das amizades no governo Roriz, Osvaldino passou a explorar o filão do lixo de Brasília desde 2000, primeiramente como subcontratada da empresa licitada, a Qualix.

SEM LICITAÇÃO

Em novembro de 2006, a governadora Maria de Lourdes Abadia, que substituíra Roriz, então candidato a senador, renovou o contrato sem licitação com quatro empresas, incluindo a Nely Transportes. Pelo contrato, a empresa recebeu R$ 599,5 mil em 2006 e R$ 9,6 milhões este ano e tem ainda R$ 200 mil a receber.

Por ser de caráter emergencial, o contrato venceu em maio passado, mas o atual governador, José Roberto Arruda (DEM), renovou com as mesmas empresas, por falta de tempo e condições de realizar licitação. Valério, o assessor de Roriz, participou da reunião para renovação do contrato.