Título: Reação ponderada de Brown é elogiada até pela oposição
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Fonte: O Estado de São Paulo, 04/07/2007, Internacional, p. A12

Estilo sereno contrasta com o de Blair e ajuda a tranqüilizar a população

O primeiro-ministro britânico, Gordon Brown, não se preocupa com o carisma. Ao contrário de Tony Blair, o novo líder britânico não usou frases emotivas, não prometeu uma nova legislação nem falou de uma ¿guerra contra o terror¿, depois dos ataques fracassados em Londres e Glasgow. Em vez disso, as poucas declarações públicas do carrancudo escocês foram graves, ponderadas e breves. Muitos britânicos acolheram bem a mudança, dizendo que esse enfoque mais discreto do problema pode deixar mais tranqüilo um país tomado pelo nervosismo e evitar a explosão de tensões raciais.

¿Precisamos manter a calma¿, afirmou Duncan Walls, de 64 anos, um advogado aposentado, ao referir-se ao nível ¿crítico¿ de alerta contra ataques terroristas na Grã-Bretanha. ¿Fico contente que a atitude corrosiva de Tony Blair e de John Reid (ex-secretário do Interior) em particular já não seja mais evidente¿, acrescentou.

A resposta ponderada de Brown aos ataques foi aplaudida tanto pelos aliados como por seus inimigos. Na terça-feira o chefe do Conselho Muçulmano da Grã-Bretanha, Muhammad Abdul Bari, elogiou Brown e o secretário do Interior, Jacqui Smith, pelo ¿tom sereno e tranqüilizador de sua resposta aos recentes ataques¿.

Nick Clegg, porta-voz da oposição liberal-democrata, acolheu bem a mudança em relação à ¿maneira um tanto ofegante de Tony Blair, sempre se apressando para tentar, francamente, ganhar pontos políticos por conta desses eventos¿.

Numa crise, sempre se podia esperar de Blair um show de emoção e uma frase memorável. Após a morte da princesa Diana, ele a elogiou como ¿a princesa do povo¿.

Horas depois dos atentados suicidas que mataram 52 passageiros num ônibus e no metrô londrino, em 7 de julho de 2005, Blair fez um discurso que lembrou Winston Churchill, e prometeu: ¿Tentam nos intimidar, mas não seremos intimidados. Não vamos mudar.¿

A mensagem de Brown - num comunicado breve e numa entrevista mais longa na televisão - pode ser resumida nesta frase: ¿Vamos manter a calma e prosseguir.¿

Com seu sotaque escocês, Brown disse que o país enfrenta uma ameaça prolongada e instou os britânicos a ¿manter-se juntos, unidos, resolutos e fortes¿.

Gordon Brown permaneceu grande parte do tempo nos bastidores, deixando as informações ao público por conta da polícia e de autoridades do alto escalão. Ele presidiu uma reunião do comitê de emergência do governo, o Cobra, no sábado, mas deixou as reuniões posteriores para Smith e outras autoridades.

O discreto Jacqui Smith também contrasta com seu beligerante predecessor, John Reid, cujo discurso duro e inflexível com relação ao terrorismo às vezes era criticado por exacerbar as tensões religiosas e étnicas. Num discurso aos parlamentares na segunda-feira, Smith qualificou os terroristas de ¿criminosos cujas vítimas vêm de todas as classes sociais, comunidades e crenças religiosas¿.

Brown, por sua vez, tem feito referência a agressores ligados à rede terrorista Al-Qaeda, mas não a terroristas muçulmanos ou islâmicos.

PRUDÊNCIA

Em vez de anunciar uma nova legislação antiterror - como Blair e Reid fizeram depois dos atentados de 7 de julho de 2005 -, Brown disse que deseja conversar com os políticos da oposição para criar um consenso quanto às medidas a adotar.

¿Este não é o momento de nos apressarmos para criar novas leis¿, disse o porta-voz oficial de Brown, Michael Ellam.

A população aprova esse enfoque mais prudente. ¿Estou impressionada como Brown e Jacqui Smith se expressam tão calmamente¿, disse James Freeman, de 32 anos. ¿Eles tratam os terroristas como criminosos e não como pessoas de alguma seita religiosa. Acho que (Brown) vai continuar firme.¿

Em pesquisa de opinião divulgada ontem, 37% dos entrevistados declararam apoio ao Partido Trabalhista de Brown. Além disso, 77% disseram considerar o primeiro-ministro um líder forte (ler ao lado).

O biógrafo de Brown, Tom Bower, alertou que, mesmo que não ocorram novos ataques terroristas, a lua-de-mel de Brown deve ser curta. Para Bower, depois de uma década como chefe do Tesouro e braço direito de Blair, será difícil para Brown se distanciar de seu predecessor.

¿O país se reuniu em torno dele, corretamente, e a política partidária é suspensa num momento como este¿, afirmou Bower. ¿O verdadeiro Brown, o Brown vulnerável, surgirá depois do verão (no Hemisfério Norte). O teste vai acontecer quando os políticos retomarem os trabalhos, no outono¿, acrescentou.