Título: Suspeitos eram do sistema de saúde
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Fonte: O Estado de São Paulo, 04/07/2007, Internacional, p. A12

Técnica de laboratório e 7 médicos estrangeiros presos após ataques frustrados trabalhavam no serviço público britânico

Os oito suspeitos presos até ontem nas investigações do ataque de sábado ao aeroporto de Glasgow e do plano para explodir dois carros no centro de Londres, descoberto sexta-feira, trabalhavam no Serviço Nacional de Saúde britânico (NHS), revelou ontem a emissora britânica BBC. A informação, não confirmada pelas autoridades, era a única ligação aparente, até ontem, entre os suspeitos, num caso que envolve cidadãos do Iraque, Jordânia, Índia, Líbano e Arábia Saudita - além de um suspeito detido na Austrália.

Enfrentando uma ameaça terrorista poucos dias após tomar posse como primeiro-ministro, Gordon Brown fez ontem seu primeiro pronunciamento na Câmara dos Comuns, na qual anunciou a criação de um Conselho de Segurança Nacional. O órgão, que supervisionará a estratégia de segurança, será liderado por Brown e formado por ministros do governo. Com poucas informações oficiais, a maior parte das revelações feitas até agora sobre os incidentes tem partido de fontes ligadas ao caso, que alimentam especulações da imprensa.

O médico indiano preso segunda-feira na Austrália foi identificado ontem como Mohammed Haneef, de 27 anos. Ele trabalhava para o Hospital Gold Coast, na cidade de Southport. Um colega que estava com Haneef foi interrogado pela polícia, mas liberado horas depois.

Funcionários do Hospital Royal Alexandra, em Paisley, disseram ontem que o motorista do Jeep Cherokee, internado no local com queimaduras graves, é o médico libanês Khalid Ahmed, que trabalhou no hospital. A polícia ainda não confirmou a informação de que Ahmed e o médico iraquiano Bilal Abdulla, que também estava no carro, seriam as mesmas pessoas que teriam estacionado os dois Mercedes com cilindros de gás propano, gasolina e pregos no centro de Londres. A TV britânica Sky News disse que Ahmed e Abdulla teriam se apressado em lançar o ataque em Glasgow porque sabiam que a polícia os estava investigando. Anthony Glees, diretor do Centro Brunel de Estudos de Segurança e Inteligência, afirmou que a maioria dos suspeitos presos era conhecida pelo serviço secreto MI5. A informação não foi confirmada oficialmente.

Em um novo alarme falso, o terminal 4 do aeroporto de Heathrow, o maior de Londres, foi fechado ontem durante cinco horas após a polícia encontrar um pacote suspeito. Perto da estação de metrô de Hammersmith, um esquadrão antibomba também explodiu um pacote suspeito deixado no local. Em Glasgow, policiais realizaram uma explosão controlada num carro estacionado na frente de uma mesquita. Duas pessoas foram presas ontem em Blackburn, no norte da Inglaterra, aparentemente por terem comprado dez cilindros de gás como os encontrados nos veículos em Londres.

A polícia tenta agora entender como e por que os suspeitos, todos jovens muçulmanos - sem ligações aparentes com grupos radicais islâmicos, que viviam como qualquer membro da classe média britânica e com carreiras promissoras - organizaram-se para realizar ataques que poderiam ter matado milhares de pessoas. Segundo o jornal The Guardian, uma das possibilidades exploradas pelos investigadores é a de que os ataques tenham sido planejados fora do país. Dois militantes islâmicos teriam então se infiltrado no NHS para doutrinar outros médicos. Pessoas próximas a alguns dos envolvidos disseram estar chocadas com as revelações. Azmi Mahafzah, instrutor de Asha na Universidade da Jordânia entre 1998 e 2004, disse ontem que nem sabia que o médico era religioso. ¿Ele não é o tipo de pessoa fanática¿, afirmou. Colegas de Haneef na Austrália descreveram-no como ¿um cidadão modelo, com excelentes referências¿.

A BBC informou que dos 277 mil médicos registrados no Conselho Médico Geral, equivalente aos Conselhos Regionais de Medicina do Brasil, 128 mil estudaram fora do país. Desses 128 mil, 1.985 vieram do Iraque e 184 da Jordânia. Sobrecarregado, o NHS depende de médicos estrangeiros para manter o serviço funcionando. Até 2006, esses médicos não precisavam de visto de trabalho para atuar na Grã-Bretanha.

NÚMEROS

277mil é o total de médicos registrados no Conselho Médico Geral britânico

128 mil médicos do CMG estudaram fora;quase 2 mil vieram do Iraque