Título: Chávez insiste em mudar Mercosul
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Fonte: O Estado de São Paulo, 04/07/2007, Economia, p. B1

Em discurso transmitido por rádio e TV, presidente pede respeito e ameaça sair do bloco por dignidade

O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, afirmou ontem que, se os Congressos de Brasil e Paraguai não ratificarem o processo de adesão de seu país ao Mercosul nos próximos três meses, ele desistirá da idéia de entrar no bloco. 'Se não for feito em três meses, nos retiraremos por dignidade, porque consideramos uma falta de respeito', afirmou ele, em um discurso transmitido em cadeia de rádio e televisão.

Chávez reiterou que a Venezuela quer outro sistema de integração na América do Sul. Em uma parte do discurso, referiu-se diretamente ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. 'Nós não desistimos do Mercosul, insistimos em que mude.'

O venezuelano voltou a responsabilizar alguns setores do Congresso brasileiro pelo atraso no processo de ratificação da entrada de seu país no Mercosul. 'Vamos esperar até setembro. Não esperaremos mais, porque os Congressos do Brasil e do Paraguai não têm razão política nem moral para não aprovar nossa entrada. Se não o fizerem, vamos nos retirar até que haja novas condições.' Autoridades brasileiras foram duras nas respostas ao presidente venezuelano.

Chávez disse que a oposição do Brasil ao ingresso da Venezuela se deve ao desejo dos empresários brasileiros de eliminar as proteções aos produtores venezuelanos. Durante o discurso, ele garantiu que seu país não vai ceder.

'Empresários venezuelanos, não vou deixá-los desamparados diante de ninguém. Nem diante do Brasil nem diante dos Estados Unidos nem diante da Europa nem diante do Irã, de ninguém', prometeu.

Ele advertiu os empresários brasileiros que, se a Venezuela não entrar no Mercosul, eles têm muito mais a perder do que os venezuelanos. Chávez ilustrou a afirmação com números sobre o crescimento das exportações brasileiras à Venezuela nos últimos anos, que passaram de US$ 539 milhões em 2003 para US$ 2,973 bilhões no ano passado.

O líder venezuelano destacou que os Congressos de Argentina e Uruguai já aprovaram o ingresso de seu país no bloco. 'Para nós, as condições estão completas, só falta que o do Brasil aprove', afirmou. 'Portanto, a bola está com vocês (referiu-se ao Brasil).'

Em 4 de julho de 2006, os presidentes da Argentina, Néstor Kirchner, do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, do Paraguai, Nicanor Duarte, e do Uruguai, Tabaré Vázquez, assinaram em Caracas o documento que previa o ingresso da Venezuela no Mercosul. Um ano depois, os parlamentos de Brasil e Paraguai ainda não chancelaram a adesão venezuelana.

No caso brasileiro, a situação complicou-se depois de Chávez dizer que o Congresso era 'papagaio' dos Estados Unidos. A crítica ocorreu depois de os senadores terem repudiado o fechamento do canal de televisão RCTV. Chávez não renovou a concessão por considerar a rede golpista (ler mais ao lado).

CONSULTAS

O presidente do Parlamento do Mercosul, o uruguaio Roberto Conde, afirmou que iniciará consultas com os países do bloco a respeito do ultimato dado por Chávez. 'Consultaremos sobre o caso. O Parlamento não se reunirá até 6 de agosto, mas antes dessa data discutiremos o tema', disse. Conde defendeu que se tire 'a carga ideológica do debate' e disse que se deve 'trabalhar com prudência para resolver um tema complicado'.

FRASES

Hugo Chávez Presidente da Venezuela

'Se não for feito em três meses, nos retiraremos por dignidade, porque consideramos uma falta de respeito'

'Vamos esperar até setembro. Não mais, porque os Congressos do Brasil e do Paraguai não têm razão política nem moral para não aprovar nossa entrada'

'Empresários venezuelanos, não vou deixá-los desamparados. Nem diante do Brasil nem diante dos Estados Unidos nem diante da Europa nem diante do Irã'

'Para nós, as condições estão completas, só falta que o Congresso do Brasil aprove. Portanto, a bola está com vocês (referindo-se ao Brasil)'