Título: A burguesia se globaliza
Autor: Ming, Celso
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/07/2007, Economia, p. B2

Enquanto a Fiesp e o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) seguem lamentando o que chamam de processo de desindustrialização nacional, as empresas brasileiras tratam de se expandir no exterior, onde criam empregos e geram lucros.

Isso acontece até mesmo com a Coteminas, do vice-presidente José Alencar e do presidente do Iedi e da Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit), Josué Gomes da Silva, que agora diversifica suas atividades na Ásia.

Reportagem publicada na segunda-feira neste Estadão, da repórter Lu Aiko Otta, lembra que, neste ano, além da já anunciada compra da Swift americana pela Friboi brasileira, se esperam, ao menos, US$ 10 bilhões em investimentos de empresas brasileiras no exterior. A novidade é que o BNDES, tido até agora como agência de fomento do desenvolvimento no Brasil, prepara políticas de apoio a essa emigração.

Redução de custos, aumento da escala de produção, diversificação de riscos, melhor acesso a matérias-primas e a outros mercados, linhas mais baratas de financiamento - são muitas razões para a globalização do capital brasileiro. Cada caso é um caso, mas todos têm em comum o fato de que as condições e o mercado brasileiro ficaram estreitos demais.

É um processo que vai levantar questões e exigir mudanças. Começa pelo fato de que o Produto Nacional Bruto (PNB) tende a ficar mais importante do que o Produto Interno Bruto (PIB). A diferença é que o PIB se restringe apenas à renda produzida no País. Não leva em conta a renda nacional produzida no exterior. Boa pergunta consiste em saber se indicadores tradicionais medidos pelo PIB deverão ser também medidos pelo PNB. O que passará a ser mais relevante: a razão dívida/PIB ou dívida/PNB; investimentos/PIB ou investimentos/PNB?

E o que dizer da sempre discutível política industrial? Se há interesse do governo na globalização da indústria, é preciso políticas nesse sentido. A idéia de que o BNDES intensificará o apoio aos investimentos no exterior já é parte disso, o que implica criação de empregos fora do Brasil.

Até há pouco, as atividades do capital estrangeiro no Brasil eram vistas com suspeita, especialmente pelos segmentos nacionalistas. À medida que a burguesia nacional, encorajada no passado pelas esquerdas, passa a fazer o jogo da globalização, é inevitável que os papéis se invertam. Não deixa de ser sintomático que a atividade das empresas brasileiras seja considerada subimperialista por movimentos nacionalistas de países vizinhos. O que significa empenhar-se por políticas de desenvolvimento nacional quando um segmento cada vez mais importante dele põe os pés lá fora?

Um dos objetivos da expansão para o exterior é aumentar a competitividade do produto para que este possa chegar em melhores condições ao mercado nacional. Cedo ou tarde, as próprias empresas brasileiras exigirão redução das tarifas de importação e da proteção à produção no País.

Enfim, nada como um dia após o outro. Os negócios mudam de direção, os interesses mudam com eles e assim caminha a humanidade.