Título: Para salvar Doha, CNI aceita reduzir níveis de proteção
Autor: Otta, Lu Aiko
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/07/2007, Economia, p. B5

Indústria brasileira admite flexibilizar posição histórica para manter multilateralismo da OMC

Para salvar o multilateralismo, a indústria brasileira está disposta a reduzir seus níveis de proteção. 'Mas é preciso discutir quanto e como', disse, ao Estado, o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Armando Monteiro Neto. Os setores industriais têm resistido à maior abertura comercial, enquanto os países desenvolvidos não abrem mão de sua proteção à agricultura.

Mas, diante do risco de colapso da Rodada Doha da Organização Mundial do Comércio (OMC), a indústria admite uma posição mais flexível. 'Do contrário, sobrarão só os acordos bilaterais e não haverá mais como justificar esses fóruns multilaterais', observou Monteiro.

Órgãos multilaterais são considerados importantes para o País porque garantem, segundo Monteiro, uma 'reciprocidade assimétrica'. Ou seja, países em diferentes estágios de desenvolvimento podem se relacionar em pé de razoável igualdade - o que nem sempre ocorre no diálogo bilateral.

O Brasil, por exemplo, obteve importantes vitórias na OMC contra os subsídios dos Estados Unidos ao algodão e dos europeus ao açúcar. Mas, se a Rodada Doha naufragar de vez e todos os países partirem para acordos bilaterais, a própria OMC perderá peso político.

O reforço ao multilateralismo é um dos seis pontos que o empresariado brasileiro pinçou entre vários itens que comporão a parceria estratégica Brasil-União Européia, a ser lançada hoje, numa reunião entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o presidente da Comissão Européia, José Manuel Durão Barroso, e o primeiro-ministro de Portugal, José Sócrates, que assumiu a presidência rotativa da UE.

Do lado brasileiro, os empresários defenderão também a proposta de que a parceria deve permitir o reforço dos investimentos em infra-estrutura. A idéia, diz Monteiro, é utilizar mais intensamente a experiência européia na regulamentação desses setores. 'Eles têm consolidado muito o marco regulatório, enquanto nós ainda estamos discutindo o papel das agências reguladoras.'

Os europeus também têm longa experiência nas Parcerias Público-Privadas (PPP), que no Brasil ainda patinam. Eles serão convidados a investir na infra-estrutura brasileira, mas há expectativa também de que sejam oferecidas novas formas de financiamento. Outro ponto que a parceria poderá ajudar a 'destravar' é o comércio com os europeus.