Título: Analistas vêem indústria em aceleração
Autor: Chiara, Márcia De e Rehder, Marcelo
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/07/2007, Economia, p. B8

Indicadores antecedentes apontam crescimento superior às previsões

A economia brasileira deverá acelerar mais do que o normal do primeiro para o segundo semestre deste ano. Tradicionalmente, o Produto Interno Bruto (PIB) em termos absolutos cresce 1,5% entre esses dois períodos. Neste ano, a expectativa é de um salto de 3%, o dobro do que sazonalmente ocorre. A projeção é do diretor da RC Consultores, Fábio Silveira, que atribui a aceleração no ritmo de crescimento do PIB, estimado para o ano em 4,5%, ao deslanche da indústria.

'A redução na taxa de juros começa a ter efeitos mais significativos na produção industrial', diz Silveira. Ele observa que o ritmo da indústria está se recuperando lentamente, porém de maneira sustentável, puxado pelos bens de capital. Em 12 meses até abril, o setor acumulou alta de 8,5%. No mesmo período, o ritmo de crescimento da produção de bens de consumo foi bem menor, de 2,7%.

A produção industrial de maio, que será divulgada hoje pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), deverá apontar uma expansão de 4,7% ante maio de 2006, segundo projeções da consultoria. Se a previsão se confirmar, a indústria terá crescido 4,4% de janeiro a maio na comparação anual e 3,3% em 12 meses até maio. 'Esse será o maior nível de crescimento da indústria em 12 meses, desde outubro de 2005', afirma Silveira. Ele prevê aumento de 4,5% do PIB no segundo semestre ante o mesmo período de 2006.

A consultoria MB Associados projeta crescimento próximo de 5% para o PIB no segundo semestre na comparação anual. 'O segundo semestre deverá vir num ritmo mais forte que o primeiro, principalmente pela continuidade da recuperação do setor de serviços e maior crescimento da indústria, por conta do mercado interno', diz Sergio Vale, economista da MB. Do lado da demanda, segundo ele, continuam boas as perspectivas para os investimentos.

O consumo aparente de máquinas e equipamentos (valor da produção menos exportação e mais importação) cresceu 10,7% até maio, sinalizando o esforço de investimentos das empresas em modernização e ganhos de produtividade.

Segundo a Associação Brasileira de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), o consumo aparente no período chegou a R$ 27,780 bilhões, ante R$ 24,198 bilhões em igual período de 2006. Facilitada pela forte valorização do real ante o dólar, a importação deu um salto de 30,5%, passando de US$ 4,298 bilhões, entre janeiro e maio de 2006, para US$ 5,610 bilhões.

'A indústria que vinha patinando um pouco, crescendo na faixa de 3% em 12 meses, vai se acelerar neste semestre', diz Roberto Padovani, economista-chefe do banco WestLB. Segundo ele, o aumento da produtividade, por meio de investimentos, e a redução dos juros devem impulsionar a atividade industrial a partir de agora.

Padovani acredita que o primeiro semestre fechou com crescimento econômico maior do que o esperado. Entre as evidências, ele cita o bom desempenho do comércio, a elevação do uso da capacidade instalada da indústria, hoje na casa de 83,2%, e os baixos níveis de estoques nas fábricas.

A Whirlpool, fabricante de eletrodomésticos das marcas Brastemp e Consul, teve no primeiro semestre um crescimento superior ao previsto. Segundo o diretor de Vendas, Sérgio Leme, a empresa vendeu 18% a mais do que no primeiro semestre do ano passado. A previsão para o ano e o semestre, que era de até 12%, foi revista para até 20%. 'A recuperação da renda, o aumento do crédito, a redução dos juros e o crescimento do mercado imobiliário contribuíram para isso', disse.

Animadas pelo desempenho do próprio negócio, as expectativas dos empresários da indústria da construção civil para o segundo semestre são as melhores dos últimos oito anos. Essa é uma das principais constatação de sondagem trimestral do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de São Paulo (Sinduscon-SP), com 300 empresas em todo o País.

Numa escala de zero a 100, a avaliação das perspectivas de desempenho dos negócios atingiu índice de 59,3 pontos, o que representa uma melhora de 21,5% em relação ao resultado de igual período de 2006. A entidade projeta avanço de 7% para o PIB do setor em 2007. No ano passado, o crescimento foi menor, de 4,9%. 'As empresas estão em situação muito melhor do que estiveram nos últimos anos', diz João Carlos Robusti, presidente do Sinduscon-SP. 'Mesmo que os resultados práticos do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) não sejam os que o governo tem apregoado, devem provocar mais movimentação no setor.'