Título: Professor inscrito por ONG ignora programa
Autor: Magalhães, Alvaro e Jozino, Josmar
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/07/2007, Nacional, p. A9

A ONG Congresso Nacional Afro-Brasileiro (CNAB) cadastrou no Programa Brasil Alfabetizado, do Ministério da Educação (MEC), professores que nem sabem da existência dessas salas de aula. Algumas turmas informadas pela ONG, que deveriam ter começado as aulas em abril, são fantasmas.

Desde segunda-feira, o Jornal da Tarde e o Estado publicam uma série de reportagens sobre irregularidades e desvios no programa de alfabetização do MEC no Estado de São Paulo. Turmas fantasmas, professores sem salário e atraso das aulas são alguns dos problemas.

O CNAB tem 162 turmas e recebeu R$ 266.230,80 do MEC - depositados em 3 de abril, na conta 0000255505, agência 1196, do Banco do Brasil. Patrícia Gomes Machado da Silva é uma das alfabetizadoras listadas que disse desconhecer o seu cadastramento. Segundo as informações repassadas pela ONG ao MEC, Patrícia deveria dar aulas para a turma 495159, de segunda a quinta-feira, na Rua Kiwi Natal, no Grajaú. A turma deveria ter começado em 2 de abril e terminaria em 30 de outubro. ¿Dei aula no ano passado, mas parei porque eles não tinham como pagar¿, afirmou.

No mesmo endereço estão cadastradas as turmas 495141 e 495161, da alfabetizadora Maria Lucia Gomes da Silva. Só que Maria Lúcia também deixou o projeto. ¿Dei aulas em 2005, quando recebi certinho. Em 2006, cheguei a começar as aulas sem receber, só para terminar de alfabetizar meus alunos, mas logo parei.¿

Na Rua Cachoeira de Itaguaçava, 1.056, no Jardim Helena, deveria funcionar a turma 495223, da alfabetizadora Daniela Paula Matos. Mas ali os moradores informaram que Daniela se mudou há cerca de um ano.

Na Rua Esteves Ferreira, 129, bairro de José Bonifácio, a ONG cadastrou a alfabetizadora Sheila Simone Baco, responsável pela turma 495176. Uma moradora, porém, afirmou que não conhece Sheila e não há aulas por lá.

O JT procurou, desde a semana passada, o coordenador pedagógico do CNAB, José Carlos da Silva Brito, mas ele não retornou as ligações.

AUDITORIA

Dois auditores do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) desembarcaram ontem em São Paulo, vindos de Brasília, para apurar as irregularidades.

No escritório do MEC houve uma reunião com a equipe paulista. Segundo Iara Bernardi, representante em São Paulo, os auditores já saíram à procura dos dirigentes de uma das entidades sob suspeita. Ela disse que todas as denúncias serão apuradas.