Título: Uso de laboratório não credencia bióloga
Autor: Escobar, Herton
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/07/2007, Vida&, p. A19

É o que afirma Nestor Schor, pró-reitor da Unifesp, cujo endereço era listado em currículo fraudado por pesquisadora

Não há nenhuma regra na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) que proíba pesquisadores de fora da universidade de utilizar os laboratórios da instituição. Isso, porém não dá a esses pesquisadores o direito de usar o nome da Unifesp como credencial, disse o pró-reitor de Pós-Graduação e Pesquisa, Nestor Schor, em resposta ao caso da bióloga Lilian Piñero Eça. Reportagem publicada ontem pelo Estado revelou que Lilian usava a Unifesp como referência profissional e acadêmica, apesar de não estar oficialmente vinculada à instituição.

Segundo Schor, é comum cientistas e alunos de outros centros usarem a infra-estrutura da universidade, desde que em parceria com algum pesquisador da Unifesp. ¿Se o responsável pelo laboratório acredita que alguém pode dar uma contribuição, é importante que haja essa liberdade¿, disse. Isso inclui pesquisas para trabalho de pós-doutorado, mesmo que o aluno ainda não esteja matriculado. ¿Isso não é muito comum, mas existe. A pessoa, porém, precisa ter vínculo com algum lugar.¿

Schor disse que Lilian não tem as credenciais necessárias para o pós-doutorado (não tem nenhum trabalho publicado), mas nada impede que ela faça pesquisas em laboratórios da universidade, se for em colaboração com algum professor. A pesquisadora Alice Teixeira Ferreira, que orientou o doutorado de Lilian na Unifesp (concluído em 2004) e ainda trabalha com a bióloga, disse que está esperando apenas a publicação de um estudo para que Lilian dê entrada no pós-doutorado.

DIVERGÊNCIAS

Lilian é uma das principais críticas dos estudos com células-tronco embrionárias no País. A polêmica sobre seu currículo soma-se a um debate acirrado entre cientistas que defendem as pesquisas e aqueles que se opõem a elas. Um levantamento apresentado pela geneticista Mayana Zatz, da Universidade de São Paulo, por exemplo, mostrou que os cientistas a favor publicam muito mais trabalhos do que os contrários.

A pesquisadora Claudia Maria de Castro Batista, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), considerou ¿ridícula¿ a comparação. ¿O que vale muito mais do que currículo é a pessoa ter noção ética do que está fazendo¿, disse Claudia, que tem dois trabalhos sobre células-tronco publicados em revistas indexadas. ¿Isso foge totalmente ao mérito da questão. O que está sendo decidido é algo que envolve conceitos básicos de biologia e embriologia - não precisa estar trabalhando na bancada para opinar sobre isso, basta ter uma boa formação.¿

Da mesma forma, ela questionou a experiência do grupo que defende o uso das células embrionárias. ¿Especialistas em células-tronco no Brasil mesmo só há dois: eu e o Stevens¿, disse Claudia, referindo-se ao colega Stevens Rehen, também da UFRJ. Eles seriam os únicos pesquisadores brasileiros, segundo ela, com trabalhos de pós-doutorado específicos sobre células-tronco obtidos fora do País (ela na Universidade de Toronto e ele, na Universidade da Califórnia e no Instituto Scripps).

Quando se trata de avaliar o potencial de células-tronco adultas e embrionárias, porém, Claudia e Rehen jogam em lados opostos. Ela garante que há células no organismo adulto que são tão pluripotentes e tão promissoras quanto as células de embriões (o que dispensaria o seu uso). Ele, por outro lado, garante que não. ¿Não existe argumentação científica para dispensar o uso das embrionárias¿, disse Rehen. ¿No fundo, é uma argumentação religiosa, que tem de ser respeitada, mas é religiosa.¿

Segundo Rehen, apesar de haver estudos promissores envolvendo a diferenciação e reversão de células-tronco adultas, nenhum deles propõe substituir as pesquisas com células embrionárias. ¿De forma alguma as adultas são ruins, mas de forma alguma elas são pluripotentes como as embrionárias. O que queremos é fazer a ciência avançar, e, para isso, é preciso pesquisar as duas.¿