Título: Brasil e UE vão insistir na volta da Rodada Doha
Autor: Otta, Lu Aiko
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/07/2007, Economia, p. B6

Decisão foi tomada ontem por Lula e pelo chefe de governo português, que ocupa a presidência do bloco

Brasil e União Européia (UE) não vão desistir da Rodada Doha da Organização Mundial do Comércio (OMC). Essa foi uma das principais decisões da reunião de cúpula realizada ontem, na qual o Brasil foi convidado a formar uma aliança estratégica com a Europa. 'Os que disseram que Doha estava morta encontram aqui uma resposta à altura', disse o presidente da Comissão Européia, o português José Manuel Durão Barroso.

Segundo ele, na reunião avaliou-se que 'as posições não estão tão afastadas como se pretende'. Mas ressalvou que 'é preciso trabalhar imediatamente' para avançar. 'Temos algumas semanas, não meses.'

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que é necessário reconhecer 'o óbvio': que não houve acordo porque as propostas não agradaram as partes. Por isso, é necessário voltar a negociar. Lula recomendou, também, que as conversas busquem o equilíbrio. 'Por isso as pessoas casam: porque acham que vão ganhar com isso', comentou.

Para Lula, 'os que precisam ganhar mais são os mais pobres e os que precisam ganhar menos são os mais desenvolvidos'. Ele afirmou que o Brasil está 'preparado para ser mais flexível, desde que os resultados atendam aos justos pleitos que compartilham os países do G20 e do Mercosul'.

Até a ajuda divina foi invocada por Lula para levar a bom termo a Rodada Doha, considerada fundamental, pelo Brasil, por ser a melhor forma de reduzir os subsídios dos países ricos à agricultura. 'Que Deus nos ajude a concluir o acordo.'

O presidente reiterou a sua fé num desfecho positivo por duas razões: porque acredita que 'as pessoas trabalham para que o dia de amanhã seja melhor que ontem' e porque os líderes precisam escolher 'um gesto para passar para a história como útil ou inútil'. Ele contou que disse ao francês Jacques Chirac, ao americano George W. Bush e ao britânico Tony Blair que, 'em determinado momento, é preciso escolher com que cara queremos passar para a história.

PARCERIA

O primeiro-ministro de Portugal, José Sócrates, resumiu os três itens que Brasil e UE consideraram fundamentais na parceria estratégica, como forma de marcar a presidência portuguesa da UE. Além de retomar Doha, ambos concordaram com a necessidade de fortalecer o multilateralismo e dar resposta ao problema do aquecimento global. Nesse sentido, Brasil e Portugal firmaram um acordo para a produção e comercialização de biocombustíveis.

Na troca de gentilezas, Sócrates afirmou que a Europa precisava fortalecer suas pontes com a América Latina, com o Mercosul, e, sem dúvida, o Brasil é a 'trave mestra'. Lula lembrou os laços culturais e étnicos que o unem a Portugal. 'Meu Silva não é inglês, não é alemão; é português.' Brasil e UE decidiram fazer reuniões de cúpula todos os anos para acelerar parcerias em todas as áreas.

Lula segue hoje para Bruxelas, onde é convidado de honra de um seminário sobre biocombustíveis. A UE tem metas de ampliar o uso de combustíveis renováveis. O continente tem poucas reservas de combustíveis fósseis, o que o torna dependente da Rússia, no caso do gás, e do Oriente Médio, nos demais derivados de petróleo. A energia foi escolhida como prioridade da UE no mandato português. Um novo seminário está sendo programado para 2008, no Brasil.