Título: Kirchner tenta pôr panos quentes na crise
Autor: Otta, Lu Aiko
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/07/2007, Economia, p. B8

Argentino evita confronto com Chávez e Lula

O ultimato do presidente da Venezeuela, Hugo Chávez, ao Brasil e ao Paraguai deixou o presidente argentino, Néstor Kirchner, em uma posição delicada. Foi o argentino quem incentivou, em 2004, o início das negociações para a entrada da Venezuela no Mercosul.

Kirchner, dizem analistas, não pretende ter problemas com Chávez (principal comprador dos títulos da dívida argentina) e com o presidente Lula, uma vez que o Brasil é seu maior sócio comercial e, nesta semana, passou enviar energia elétrica para a Argentina (o país enfrenta racionamento).

Por esse motivo, está tentando colocar panos quentes na crise, enquanto cruza os dedos na expectativa de uma solução pacífica. Os analistas portenhos consideram que a crise terá um desfecho ruim, já que um ultimato como o anunciado por Chávez dificilmente será aceito.

Um dos principais negociadores argentinos para o Mercosul, o subsecretário de Integração para América Latina e Mercosul, Eduardo Sigal, indicou que existe interesse na entrada da Venezuela, mas, ao mesmo tempo, respeita o ritmo do Congresso brasileiro. ¿A Argentina trabalhará com paciência. Nos interessa que a Venezuela forme parte plena do Mercosul, mas respeitamos os tempos internos e a divisão de poderes de cada país.¿

O argentino Carlos `Chacho¿ Álvarez, presidente da Comissão de Representantes Permanentes do Mercosul, o máximo organismo do bloco, viajou às pressas à Venezuela para tentar moderar os ânimos dos venezuelanos. Informações extra-oficiais indicam que Álvarez - que foi vice-presidente da Argentina durante o primeiro ano do governo Fernando De la Rúa (1999-2001) - viajou a Caracas a pedido do próprio Kirchner.

URUGUAI

O Uruguai aprovou em novembro do ano passado a entrada da Venezuela no Mercosul. A aprovação foi realizada no Parlamento uruguaio horas antes da chegada de Chávez para a Cúpula de Países Ibero-americanos. No entanto, apesar do gesto cortês dos uruguaios, Chávez faltou ao encontro de presidentes. De lá para cá, a irritação com Chávez cresceu de forma exponencial entre as lideranças da oposição, que consideram que a presença do venezuelano no bloco é um péssimo sinal para o resto do mundo.

Na terça-feira, os parlamentares do governo do presidente Tabaré Vázquez vetaram uma moção apresentada pela oposição para condenar a decisão de Chávez de não renovar a concessão da Radio Caracas Televisão (RCTV). O deputado Washington Abdala, do oposicionista Partido Colorado, afirmou que o governo é uma ¿ovelhinha¿ que defende Chávez e seus parlamentares fazem ¿genuflexões¿ diante dos pedidos do presidente venezuelano.

Por via das dúvidas, o governo Vázquez está se preparando para uma eventual saída da Venezuela do Mercosul. Ontem, o chanceler Reinaldo Gargano afirmou que, caso a Venezuela deixe o bloco, as relações entre os dois países não serão alteradas. Segundo Gargano, os investimentos que Chávez realizou no Uruguai no último ano ¿não correm perigo, pois são fruto da relação bilateral¿ entre ambos países.

O deputado uruguaio Roberto Conde, presidente do Parlamento do Mercosul, o Parlasur, declarou que a entrada da Venezuela é cada vez mais difícil por causa das declarações de Chávez. ¿É um assunto político complexo, uma vez que o presidente Chávez colocou prazos muito férreos, que - como sabemos - nenhum país poderá cumprir.¿

Segundo declarações à Rádio Diez, ¿se Chávez estiver fazendo isso de forma consciente, está cometendo um grave erro, pois poderia ficar isolado da América Latina, fato que irá contra o bloco (do Mercosul). Seria um golpe forte à coluna vertebral da região¿.