Título: 'Presidente oculto', Renan dá as cartas no conselho
Autor: Samarco, Christiane
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/07/2007, Nacional, p. A6

Aliados do senador alagoano articulam mais um lance para absolvê-lo definitivamente no colegiado: entregar a relatoria do caso a Inácio Arruda

Na sexta-feira passada, quando a entrada da representação do PSOL no Conselho de Ética completou um mês, aliados e opositores do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), tinham um diagnóstico semelhante sobre a situação política da Casa. Para eles, Renan é o maior responsável pelo agravamento da crise, porque deixou de ser o chefe do Poder Legislativo para se transformar no ¿presidente oculto¿ do Conselho de Ética.

Os aliados de Renan, apesar da crise, avisam que ainda guardam uma carta na manga para tentar absolvê-lo de uma vez por todas. Eles planejam entregar a relatoria de seu caso no Conselho de Ética ao senador Inácio Arruda (PC do B-CE). Além de não ser um peemedebista, o grupo de Renan acredita que ter Arruda como relator poderia injetar alguma credibilidade nos trabalhos.

Na verdade, nem membro do conselho Arruda é. Mas restam duas vagas de suplente do bloco governista no conselho, que podem servir para acomodá-lo. Além disso, o PT, que lidera o bloco, pode indicá-lo para a vaga do ex-relator Epitácio Cafeteira (PTB-MA), que renunciou para tratar de saúde. E se essa articulação fracassar, Renan e seu grupo ainda cogitam convocar o senador Almeida Lima (PMDB-SE) para assumir a missão, repassando a presidência a um aliado.

A temperatura da crise subiu muito na semana passada, quando o PMDB de Renan e do senador José Sarney (AP) recusou a oferta do PSDB, de dar ¿estatura política¿ ao conselho, colocando o líder da bancada tucana, Arthur Virgílio (AM), na presidência e o petista Aloizio Mercadante (SP) na relatoria do processo contra Renan. O temor maior de Sarney neste caso era sobre o efeito que um comando tucano no conselho, em parceria com os parlamentares do DEM, teria no julgamento de outro peemedebista que enfrenta acusações: o senador Joaquim Roriz (DF).

CONVITE PRECIPITADO

Depois que o petista Sibá Machado (AC) renunciou à presidência do colegiado, Renan e seu grupo avaliaram que a alternativa mais segura era o próprio partido assumir o comando. O problema é que, em vez de solucionar o impasse, a escolha de Leomar Quintanilha (PMDB-TO) para o cargo de presidente acabou engrossando a lista de problemas do conselho e de equívocos atribuídos a seu ¿presidente oculto¿. Tudo porque ele não deu atenção ao alerta para ter ¿cuidado máximo para não contaminar a relatoria com a presidência¿.

Não bastasse o desgaste do convite precipitado ao senador Renato Casagrande (PSB-ES) para que assumisse a relatoria da representação do PSOL contra Renan, seguido do desconvite, Quintanilha ainda teve de amargar o alarde sobre os processos que pesam contra ele. O senador do Tocantins é alvo de inquérito no Supremo Tribunal Federal (STF) por corrupção e lavagem de dinheiro.

Ele é acusado de integrar uma quadrilha, já desmontada pela Polícia Federal, que fraudava licitações e desviava recursos públicos destinados a obras de infra-estrutura no Tocantins. A simples lembrança deste inquérito mobilizou conselheiros de partidos de oposição, que passaram a exigir a renúncia imediata de Quintanilha.

APOIOS REDUZIDOS

Mas se está difícil manter Quintanilha no posto, também não será tarefa fácil para o PMDB substituí-lo. O drama de Renan em seu próprio partido é que, embora ninguém levante voz contra ele, os nomes de peso e de confiança com que pode efetivamente contar no conselho e fora dele ficam mais reduzidos a cada trapalhada.

Isto sem falar na dificuldade de manter a solidariedade dos aliados em tempos de crise e baixa popularidade.

Um dirigente peemedebista afirma que não foi à toa que o líder do partido no Senado, Valdir Raupp (RO), retirou sua oferta de, ¿em última instância¿, assumir ele mesmo a relatoria do caso Renan. O dirigente admite que Raupp se afastou um pouco de Renan nos últimos dias e avalia que já não se pode contar 100% com ele. O motivo? Na sua opinião, ele foi mordido pela mosca azul e está se esquivando porque acha que pode suceder Renan na presidência, se tudo der errado.