Título: China encontra seu caminho para o espaço
Autor: Yardley, Jim
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/07/2007, Vida&, p. A30

Excluída da elite mundial pelos EUA, país corre sozinho atrás do prejuízo

Durante anos, a China enfrentou os esforços dos Estados Unidos para excluí-la da participação no clube espacial de elite mundial. Ultimamente, parece ter chegado a uma solução: criar seu próprio clube. Pequim está tentando se posicionar como benfeitora espacial para o mundo em desenvolvimento - em alguns casos, os mesmos países cujos recursos naturais o país cobiça aqui na Terra.

O exemplo mais recente e relevante ocorreu em maio, quando a China lançou um satélite de comunicações para a Nigéria num projeto que ilustra como o espaço se tornou outra arena na qual a China tenta exercer seu suave poder.

A China não apenas projetou, construiu e lançou o satélite para a rica em petróleo Nigéria, mas fez um empréstimo para ajudar o país a pagar a conta. Já assinou um contrato de construção de satélite para outra grande produtora de petróleo, a Venezuela. Está desenvolvendo um sistema de satélite de observação da Terra com Bangladesh, Indonésia, Irã, Mongólia, Paquistão, Peru e Tailândia. E já organizou uma associação de satélites na Ásia.

¿A China está começando a comercializar e vender essa tecnologia para países em desenvolvimento¿, afirma Shen Dingli, professor de Relações Internacionais na Universidade Fudan de Xangai. Sobre o contrato com a Nigéria, completa: ¿Isso dá substância às relações sino-africanas. Não apenas compramos matéria-prima, mas também vendemos algumas coisas.¿

Para a China, essa estratégia é uma mistura de interesse próprio, esforço para ampliar a diplomacia e, do ponto de vista de negócios, uma forma de entrar no mercado de satélites.

Os satélites se converteram em símbolos de status e necessidade tecnológica em muitos países que querem ter uma participação na propriedade do mundo digital dominado pelo Ocidente, dizem os analistas.

¿Há uma sensação evidente de que países como a Nigéria querem ter uma presença mais forte no espaço¿, diz Peter J. Brown, um jornalista especializado em tecnologia de satélites e que escreve freqüentemente sobre o mercado de satélites na Ásia. ¿Se você observar o mapa, vai verificar que mais e mais países estão tomando medidas para pôr satélites no espaço.¿

As mais grandiosas metas espaciais da China, que incluem a construção de uma sonda em Marte e a colocação de um astronauta na Lua, baseiam-se num projeto dos EUA pelo qual a exploração do espaço intensifica o prestígio nacional e promove o desenvolvimento da tecnologia. Mas Pequim também está interessada em competir na lucrativa indústria de US$ 100 bilhões dos satélites comerciais.

Nos últimos anos, a China tem conseguido atrair clientes com seus serviços de lançamento de satélites mais barato. Porém, ainda não tinha demonstrado técnica e experiência para competir por contratos internacionais de construção.

O contrato com a Nigéria mudou isso. Engenheiros chineses projetaram e construíram o satélite de comunicações geoestacionário NIGCOMSAT-1. Uma empresa aeroespacial de propriedade estatal, a Great Wall Industry Corp., vai monitorá-lo a partir de uma estação terrestre na região noroeste da China. O país treinará os engenheiros nigerianos para operar um posto de transmissão e recepção de sinais em Abuja, a capital da Nigéria.

Uma semana depois do lançamento, Ahmed Rufai, o gerente do projeto nigeriano, estava exultante. ¿Queremos fazer parte da economia digital¿, disse. Ele prevê que o satélite se pagará dentro de sete anos, pois a Nigéria vai vender banda larga para vários usuários comerciais.