Título: Angra 3 marca fim do ciclo de energia barata
Autor: Pereira, Renée
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/07/2007, Economia, p. B1

A retomada da construção da usina nuclear de Angra 3, aprovada na semana passada pelo Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), encerra, definitivamente, a era da energia abundante e barata no Brasil. Com preço inicial estimado em R$ 138 o megawatt/hora (MWh), a unidade, que terá 1.350 MW, reforça o movimento de alta verificado nos últimos leilões do governo.

Paralisadas em 1986 por falta de recursos, as obras de Angra 3 podem ser o início de um programa nuclear mais amplo no País. Esse plano já está desenhado e prevê a construção de até oito reatores de 1 mil MW cada até 2030. Só Angra 3 custará ao governo cerca de R$ 7,2 bilhões, e a expectativa é começar a operar em 2013. Para isso, porém, o empreendimento terá de passar por um difícil processo ambiental, que exigirá investimentos superiores a R$ 100 milhões.

Aliás, um dos estímulos para alguns integrantes do CNPE - que no passado eram publicamente contrários à retomada da usina - foram as dificuldades no licenciamento ambiental das hidrelétricas, especialmente as do Rio Madeira. Com dificuldade para expandir o parque gerador, Angra 3 se transformou na alternativa mais viável - independentemente do preço da energia -, já que boa parte dos equipamentos foi comprada.

Por se tratar de um projeto antigo, especialistas argumentam que o preço da energia de Angra 3 dificilmente se mantenha nos R$ 138 o MWh. O próprio presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Maurício Tolmasquim, afirmou que cada MWh produzido pela usina ficará em torno de R$ 150.

Não será nenhuma surpresa se, no fim da obra, o custo da eletricidade for superior a esse valor, avalia o ex-secretário de Meio Ambiente do Estado de São Paulo, José Goldemberg. Foi o que ocorreu com as duas primeiras nucleares, Angras 1 e 2.

Contrário à construção da usina, Goldemberg afirma que a energia nuclear não é competitiva num País com tamanha vocação hídrica como o Brasil. ¿O que mais me irrita é falarem que o preço do MWh sairá por R$ 138 ou R$ 150¿, diz ele, que acaba de voltar de um congresso sobre energia nos EUA. Lá, Goldemberg ouviu de um dos membros da comissão reguladora de energia nuclear americana (a NRC) que esse tipo de fonte não é competitiva. Por isso, não têm sido construídas novas unidades.

As últimas usinas feitas nos EUA, que contam com mais de uma centena de reatores nucleares, mostraram ser péssimos investimentos, produzindo energia muito mais cara que o previsto inicialmente, diz ele. ¿Se lá, onde o carvão e o gás são caros, essa energia não é competitiva, imagina aqui. Devem estar brincando com a gente.¿

Um exemplo de que o preço da usina será alto é o rateio do custo da energia entre as distribuidoras, nos moldes da binacional Itaipu, diz Gorete Paulo, da Fundação Getúlio Vargas no Rio.