Título: Marina diz que não vai atrapalhar
Autor: Domingos, João
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/07/2007, Economia, p. B10

Derrotada, ministra do Meio Ambiente garante que posição pessoal não interferirá na análise sobre Angra 3

Solitária voz dentro do governo no combate à instalação de novas usinas nucleares no País, a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, reconhece a derrota sofrida na segunda-feira passada, quando, por 8 votos a 1, o Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) decidiu autorizar a construção de Angra 3.

Mesmo com assessores, ela tem sido econômica nas palavras para dizer qual é sua posição: acatará o que foi decidido, mas não mudará sua posição pessoal. Ela avisa, também, que não recuará de suas manifestações públicas.

Desde a decisão do CNPE, Marina tem lembrado aos que a procuram para falar a respeito da construção de usinas nucleares que os conselheiros retrataram uma posição de governo. Insiste sempre em lembrar que faz parte desse governo e, como tal, não pretende estabelecer nenhuma tática de combate à construção de Angra 3.

Se for perguntada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva a respeito do que pensa sobre as usinas nucleares, dirá, mais uma vez: ¿Há um grande problema em relação à destinação dos resíduos nucleares¿. E acrescentará que, se nenhum País desenvolvido do mundo encontrou um meio de resolver o assunto, o Brasil também não tem a solução.

Como o processo de construção de Angra 3 é irreversível, caberá agora a Marina comandar o processo de licenciamento ambiental. Ela própria tem dito que deve ser feito com toda isenção, sem observar o que pensa.

Repetiu isso na quarta-feira, no Palácio do Planalto, ao ser questionada sobre como vai agir, a partir de agora. ¿Não vou usar minha posição política em benefício de A ou B. Aquilo que fazemos em relação aos empreendimentos se baseia na legislação ambiental e em processos técnicos. O processo de licenciamento das usinas nucleares está sendo feito com a mesma isenção de todos os empreendimentos.¿

A ministra Marina lembra ainda às pessoas com as quais conversa que já foram feitas três audiências públicas sobre a construção de Angra 3. Diz que todas foram polêmicas, porque uma parte da sociedade está contra e outra, a favor.

A ministra costuma comentar com seus assessores que não foi pega de surpresa pela decisão do CNPE. Afirma que nunca escondeu qual é seu posicionamento. Tanto é que costuma repetir: ¿Nosso entendimento é o de que, na realidade do Brasil, não há necessidade de energia nuclear. Nós temos fontes renováveis de energia. Só com a utilização de biomassa, do potencial de hidreletricidade, de energia solar e eólica, teremos condições de resolver os problemas do País¿.

VALE A LEGISLAÇÃO

Para reforçar suas palavras - embora em nenhum momento manifeste a intenção de promover um combate à decisão já tomada de construir Angra 3 -, Marina repete sempre que o resto do mundo não tem feito investimentos em energia nuclear nos últimos 15 anos.

Houve comentários de que o Ministério do Meio Ambiente está sob pressão, por causa da demora do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) no exame das licenças prévias para as Usinas de Jirau e Santo Antonio, no Rio Madeira, em Rondônia.

Marina repele a afirmação, sempre que perguntada. ¿Trabalho com os princípios constitucionais de impessoalidade e probidade. Temos de atender aos preceitos da legislação e, quando se age dessa forma, não existe a linguagem da pressão.¿

Para ela, falar o que pensa é um direito. ¿Eu falo, como outros ministros falam também. É no debate público com meus colegas ministros, ou apresentando minha posição ao presidente da República, que digo o que penso.¿