Título: 'O Brasil tem um passado de não beligerância'
Autor: Tereza, Irany e Pamplona, Nicola
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/07/2007, Economia, p. B11

O presidente da Eletronuclear, Othon Pinheiro, diz que o Brasil domina a tecnologia que poderia levar à fabricação de uma bomba atômica. Mas não vê razão para o País investir nessa área.

Há muita resistência contra a energia nuclear...

Existe ainda um preconceito muito grande. Porque notícia ruim fica. A humanidade conheceu a energia nuclear com uma notícia péssima: os dois holocaustos de Hiroshima e Nagasaki. Não podemos dispensar esse energético que existe em nosso território. A energia nuclear vai nos ajudar a compor uma matriz que vai independer de importações. A invasão do Iraque foi uma disputa por energéticos, como na 2ª Guerra Mundial. Viver num país que, se administrar bem seus energéticos renováveis e não renováveis, pode suprir suas necessidades sem precisar recorrer a produtos fora de nossa fronteira é uma vantagem grande. O urânio vai contribuir para isso.

Quer dizer que o Brasil poderia estar em condições de fabricar uma bomba?

Sem dúvida, já está. Mas não vai fazer. Para quê? Se fosse assim, não se poderia fazer gasolina, para não fabricar napalm (arma química), que é uma mistura de gasolina com gelatinizante e fósforo. Se formos raciocinar nessa base, não se poderá fazer mais nada, teremos de ficar igual a índio. Para fazer uma bomba, tem de enriquecer (o urânio) mais de 95%. No Brasil, nos limitamos na Constituição e temos também acordo com a agência internacional de chegar no máximo a 20%, que é o que se precisa para um reator de pesquisa. De vez em quando, chega um camarada menos esclarecido querendo comparar a gente com outros países. Poucos países no mundo têm o passado de não beligerância externa que temos. Somos um país num estado democrático de direito, não teocrático. Uma coisa que achei formidável no nosso presidente recentemente foi a declaração de que o Brasil é um país laico. O único país comparável a nós no enriquecimento de urânio é a Holanda. Alemanha e Japão dominam a tecnologia, mas nos últimos cem anos, temos um contencioso com a humanidade muito menor.

O Brasil pode sofrer retaliação internacional por isso?

Não há razão técnica para isso. Primeiro, existe a necessidade econômica. Todo o país que traz de fora seus insumos de energia, tem de aumentar sua capacidade militar, ou para intervir ou para respaldar os contratos. O urânio vai garantir que o Brasil não precise (elevar o poderio bélico), porque tem fontes internas de energia. Por isso digo: se há um país no mundo em que a energia nuclear é para fins pacíficos, é o Brasil.