Título: Força da economia e juro explicam valorização do real
Autor: Dantas, Fernando
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/07/2007, Economia, p. B16

Especialistas, porém, não se entendem sobre a importância de cada fator

É o juro, a economia real ou uma combinação dos dois? Assim, simplificadamente, pode ser resumido o debate sobre as causas da fortíssima valorização do real desde 2003, que vem na esteira da inundação de dólares no Brasil. Nenhum especialista negará a importância da balança comercial - que saltou de um déficit de US$ 698 bilhões em 2000 para superávit de US$ 46,1 bilhões em 2006, desempenho que o mercado prevê repetir-se este ano.

Os investimentos diretos estrangeiros, por sua vez, atingiram US$ 18,8 bilhões em 2006, o melhor resultado desde 2001 (US$ 22,5 bilhões), mas ainda longe do recorde de US$ 32,8 bilhões em 2000. Em 2007, porém, os investimentos diretos já chegaram a US$ 10 bilhões de janeiro a abril, mais do que o dobro em relação aos US$ 4,8 bilhões obtidos em igual período do ano passado.

A balança comercial e os investimentos diretos são o lado virtuoso da avalanche de dólares, ligado à melhora dos fundamentos da economia real. O problema, porém, é que desde 2006 esses fatores saudáveis foram complementados por uma maciça entrada de fluxos de capital de curto prazo, de até um ano de prazo (ver página B14).

Como escreve Darwin Dib, economista do Unibanco, em recente relatório, ¿parece que, no longo prazo, a volatilidade característica de fluxos especulativos como este pode colocar em perigo a boa saúde das contas externas brasileiras¿.

Há uma corrente de especialistas convencida de que a grande diferença entre a taxa real de juros brasileira, em torno de 7% ao ano para aplicações de um ano, e a americana, em torno de 2,5%, explica a entrada maciça de capitais de curto prazo buscando aplicações de renda fixa. O paradoxo de que uma diferença muito maior não atraiu nada em 2003 e 2004, e muito menos que o nível atual, em 2005, poderia ser explicado pela queda livre do risco Brasil no período, que saiu de 1.387 no início do governo Lula para 161 na última sexta-feira.

Quanto menor o risco, mais o investidor estrangeiro se sente à vontade para embolsar a diferença entre o juro brasileiro e o internacional. ¿É claro que deve ter muito capital de curto prazo para aproveitar esse diferencial, então a resposta certa (para a valorização do câmbio) é cortar o juro mas rápido, continuar comprando reservas e reduzir as tarifas de importação¿, diz Sérgio Werlang, diretor executivo do Banco Itaú e ex-diretor do Banco Central (BC).

Alexandre Schwartsman, economista-chefe do ABN Amro para a América Latina e também ex-diretor do BC, acha que uma das razões básicas pelas quais há um tamanho fluxo de curto prazo para o Brasil é que investidores especulativos estão apostando que o real pode se valorizar ainda mais.

Ele observa que o País, mesmo com a atual taxa de câmbio valorizada, e mesmo com a economia aquecida (o que aumenta as importações), teve um saldo comercial de US$ 47,6 bilhões nos 12 meses até maio, e um superávit em conta corrente de US$ 15,1 bilhões (1,37% do PIB) nos 12 meses até abril. Em outras palavras, isso indicaria que o real não está de fato valorizado, e ainda tem espaço para se fortalecer.