Título: Rentabilidade das reservas é novo desafio para o BC
Autor: Graner, Fabio
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/07/2007, Economia, p. B17

Maior parte dos US$ 145 bi acumulados pelo País está atrelada ao dólar, que vem perdendo valor no exterior

Com as reservas internacionais brasileiras mantendo o ritmo forte de expansão e se aproximando de US$ 150 bilhões, cresce diante do Banco Central (BC) o dilema sobre a melhor forma de aplicar essa montanha de dinheiro, hoje majoritariamente investida em títulos em dólar, moeda que vem perdendo valor em todo o mundo.

Analistas ouvidos pelo Estado consideram que o atual volume de reservas ainda não é suficiente para que o Brasil passe a fazer parte do grupo dos grandes jogadores da economia mundial, como a China. O gigante asiático tem reservas superiores a US$ 1 trilhão, capazes de fazer estremecer o mundo. Mas a maioria avalia que o tamanho atual das reservas brasileiras é suficiente para uma política de maior diversificação, com aumento na rentabilidade.

De fato, segundo fontes do governo, o BC já vem tentando, ainda que de forma lenta, variar seu cardápio de aplicações. Neste ano, a autoridade monetária está revisando seu modelo de investimento das reservas, pautado até agora pelo critério de fazer aplicações com perfil semelhante ao endividamento.

Como as reservas já superam de longe a dívida externa pública, que soma cerca de US$ 75 bilhões, a visão é a de que essa política não faz mais sentido. Por isso, moedas como o euro e o iene, portos mais do que seguros, estão no radar do BC.

Analistas consideram que é possível ousar mais. ¿Com as reservas nesse nível é interessante diversificar, buscando rentabilidade maior, sem abrir mão da segurança¿, afirmou o economista da LCA Consultores, Carlos Urso, lembrando que, quando as reservas rendem mais, as receitas com juros sobem.

Ele sugere que o Brasil adquira papéis de países emergentes, mas com baixo risco de calote - por já terem obtido das agências de risco o grau de investimento -, como Coréia, Tailândia e Rússia. Também sugere comprar diferentes moedas, com base, por exemplo, no perfil do comércio exterior.

O consultor internacional e advogado Beno Suchodolski tem uma proposta ainda mais arrojada. Ele sugere que o Brasil invista cerca de US$ 10 bilhões em fundos internacionais que, por sua vez, aplicariam seus recursos em projetos de infra-estrutura no País. Esses fundos teriam de seguir rígidas regras internacionais de gestão e transparência e teriam outros investidores. Os dólares colocados pelo Brasil nesses fundos - três ou quatro, sugere o consultor - continuariam contabilizados como reservas.

O professor Antônio Corrêa de Lacerda, da PUC de São Paulo, considera que as reservas deram ao Brasil uma blindagem importante contra crises externas, mas acredita que podem e devem crescer muito mais, para dar mais estabilidade e aproximar o País de emergentes de peso, como Rússia, Coréia do Sul e Índia. Para o economista, dois desafios estão colocados para o BC: elevar a rentabilidade das reservas e, por meio da queda mais rápida da taxa Selic, baixar o custo que seu crescimento provoca, já que a compra de dólares pelo BC tem como contrapartida a colocação de títulos públicos.

A professora de economia internacional da Unicamp Daniela Prates concorda. Ela pondera que a diversificação das reservas tem de ser feita de forma bastante cuidadosa e pensada, porque se trata de um ativo importante do País. ¿É preciso analisar bem os benefícios e os custos dessas decisões.¿

Daniela aponta que o necessário ganho de rentabilidade não vai eliminar o custo fiscal da política de acumulação de reservas por causa dos juros altos no País. Diante desse custo, ela considera que adotar mecanismos que desestimulem a entrada de capitais de curto prazo, como quarentena e tributação, seria positivo, pois diminuiria a necessidade de continuar acumulando reservas no ritmo atual.

Ela calcula que o valor mínimo ideal para as reservas, atualmente, é de US$ 250 bilhões. Isso porque, explica, além da dívida externa total - que somava US$ 145 bilhões em abril passado -, há hoje no País cerca de US$ 100 bilhões de investimentos estrangeiros em ativos como ações e títulos de renda fixa, que podem deixar o Brasil a qualquer momento, causando solavancos na economia.