Título: Bush culpará general se guerra fracassar
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Fonte: O Estado de São Paulo, 16/07/2007, Internacional, p. A9

Principal militar dos EUA no Iraque pode ser usado como bode expiatório

Quase toda vez em que defendeu sua nova estratégia para o Iraque neste ano, o presidente George W. Bush invocou o nome do comandante das forças dos EUA no país, general David Petraeus. O exemplo mais recente surgiu na semana passada, quando Bush, reagindo à crescente oposição à guerra no Congresso e tentando conter uma revolta dos próprios parlamentares republicanos, manifestou o desejo de ¿esperar para ver o que David tem a dizer¿.

¿Confio em David Petraeus, em seu julgamento¿, continuou Bush. Ele busca, pelo menos retoricamente, transferir parte do fardo de uma guerra impopular para seu general em Bagdá, usando-o como escudo contra seus críticos no Congresso. Em discursos e reuniões, Bush implora para que os críticos esperem até setembro, quando Petraeus deverá apresentar uma avaliação da missão no Iraque.

Petraeus, o quarto general a comandar as forças dos EUA no Iraque, é o primeiro com uma relação tão íntima com Bush. Toda segunda-feira, os dois conversam em videoconferência sem a costumeira presença de vices e assessores.

Alguns colegas militares de Petraeus temem que ele esteja sendo preparado pelo governo Bush como um bode expiatório para o caso de a situação no Iraque não melhorar. ¿O perigo é Petraeus ser acusado de não corresponder às expectativas e levar a culpa no lugar do governo¿, disse um oficial de quatro estrelas da reserva.

Bush mencionou Petraeus pelo menos 150 vezes neste ano em discursos e entrevistas, freqüentemente retratando-o em oposição a congressistas.

¿Parece-me quase um ato de desespero. O governo recorre ao funcionário mais importante entre os que não podem agir politicamente, e cuja credibilidade ainda está intacta. Trata-se de alguém que é ou deveria ser motivado apenas pelos fatos concretos¿, afirmou Richard Kohn, especialista em história militar americana da Universidade da Carolina do Norte.

Para o general da reserva Wallace Gregson, o presidente envia a mensagem de que o Iraque é ¿um problema exclusivamente militar¿. A idéia, disse ele, pode ser a de que ¿a ação militar e os objetivos políticos estão se separando¿. Ou seja, os EUA podem combater a insurgência e treinar os iraquianos, mas isso não afetará a capacidade dos líderes do Iraque de obter a reconciliação.

Mas Petraues pode ficar em situação vulnerável nessas manobras. Quando Bush e seus assessores mudam a estratégia militar, parecem voltar-se contra os generais que defendiam publicamente, afirmou Lawrence Korb, ex-funcionário do Pentágono. Um exemplo recente é o do antecessor de Petraeus, general George Casey Jr., responsabilizado por não melhorar a segurança dos civis iraquianos. ¿Este governo quer culpar os generais¿, disse Korb.