Título: Patrimônio de Renan será alvo de investigação
Autor: Costa, Rosa e Scinocca, Ana Paula
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/07/2007, Nacional, p. A4

Conselho de Ética também decide, em reunião, checar todas as obras da Mendes Júnior no País

Suspeito de ter enriquecido na política e usado um lobista da empreiteira Mendes Júnior para pagar despesas pessoais, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), terá sua evolução patrimonial no período de 2002 a 2006 investigada pelo Conselho de Ética. Outra decisão tomada ontem pelo colegiado foi a de investigar as obras feitas pela Mendes Júnior em todo o País com recursos do Orçamento da União. Trata-se de uma tentativa de checar se houve influência política na liberação de recursos.

As duas linhas de ação foram acertadas ontem, na primeira reunião do presidente do Conselho de Ética, Leomar Quintanilha (PMDB-TO), com os senadores Renato Casagrande (PSB-ES) e Marisa Serrano (PSDB-MS). Os dois parlamentares e o senador Almeida Lima (PMDB-SE), que não compareceu ao encontro porque está em tratamento médico em seu Estado, foram escolhidos para relatar o processo contra Renan por suposta quebra de decoro parlamentar. Casagrande e Marisa sempre foram favoráveis ao aprofundamento d as investigações, enquanto Almeida Lima é um forte aliado de Renan.

Pesam contra o presidente do Senado duas suspeitas: a de que teria contas - a pensão de uma filha e um aluguel - pagas pelo lobista Cláudio Gontijo e a de ter apresentado notas frias para justificar rendimento de R$ 1,9 milhão, nos últimos quatro anos, com a venda de gado. Para parlamentares que questionam a versão do cacique alagoano, ele tentou inflar os rendimentos para provar que não precisava da ajuda de ninguém.

Após a reunião, Quintanilha e os relatores pediram ao diretor-geral da Polícia Federal, delegado Paulo Lacerda, que aprofunde a perícia de notas fiscais, recibos e Guias de Transporte de Animais (GTAs) relacionados pela defesa. Em conversa na superintendência da PF, ficou acertado que os peritos terão um prazo de 20 dias para trabalhar, a contar da data em que receberem os documentos necessários do presidente do Congresso.

¿INCONSISTÊNCIA¿

No laudo incompleto da PF, entregue ao conselho no dia 19 de junho, os peritos apontaram ¿inconsistência¿ na documentação, por falta de dados sobre as operações que Renan disse ter realizado. O laudo inconclusivo da PF desarticulou a defesa do parlamentar e fragilizou sua situação política.

Casagrande acredita que Renan terá todo o empenho em atender aos peritos, sob pena de vir a ser o grande prejudicado. ¿O maior interessado é ele¿, afirmou. ¿Se a perícia não for conclusiva, a avaliação que dela resultar pode desmontar sua defesa.¿

Na terça-feira, a Mesa do Senado deve votar o requerimento pedindo a conclusão da perícia. No mesmo dia, os senadores esperam receber do presidente do Congresso os papéis que permitirão à PF checar se as operações informadas por ele realmente ocorreram.

¿Nós precisamos da perícia da Polícia Federal¿, defendeu Casagrande. ¿Ela é fundamental para que possamos emitir um juízo sobre o processo, e temos certeza de que a polícia vai fazer o serviço completo, dentro das suas possibilidades.¿

Os senadores ainda não sabem se poderão pedir ajuda à Receita Federal para investigar o patrimônio de Renan. Caso isso seja impossível, já que se trata de documentos protegidos por sigilo, eles vão pedir ao presidente do Senado que colabore nessa parte dos trabalhos, fornecendo cópias de suas declarações.