Título: Suplente de Roriz avisa que vai assumir
Autor: Mendes, Vannildo
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/07/2007, Nacional, p. A5

Como o titular, Argello acumula suspeitas de irregularidades

Investigado pelo Ministério Público por suspeita de corrupção, grilagem, sonegação de impostos e improbidade administrativa, o suplente de senador Gim Argello informou ontem, por meio de nota, que assumirá o cargo no lugar do titular, Joaquim Roriz (PMDB-DF) - que renunciou ao mandato para evitar processo de cassação por quebra de decoro. A ironia é que Argello é suspeito de ter recebido comissão na mesma transação imobiliária que está por trás da queda de Roriz. Ontem, a Corregedoria do Senado esclareceu que a investigação sobre o caso vai prosseguir.

Ex-presidente da Câmara Distrital de Brasília, onde comandou por dois mandatos a tropa de choque de Roriz, Argello disse lamentar o fato de assumir a vaga do titular ¿de forma intempestiva¿. Segundo assessores, ele não cogita renunciar - Roriz já tentou convencê-lo a abrir mão do mandato. O suplente passou os últimos dias isolado. Ontem, anunciou entrevista e depois desmarcou, alegando problemas de saúde.

PASSADO

Argello se destacou numa Casa legislativa marcada por denúncias de corrupção, com parlamentares freqüentemente presos e processados. Marco da autonomia política do Distrito Federal, conquistada em 1986, a Câmara Distrital foi dirigida por ele em 2001 e 2002. Como deputado, Argello aprovou em plenário mais de 100 projetos de regularização de condomínios, que resultaram em investigação do Ministério Público, sob acusação de ter recebido suborno em dinheiro e outras formas - lotes, por exemplo. Nas últimas eleições, foi divulgada fita de vídeo em que o deputado Odilon Aires (PMDB) afirmava que Argello teria recebido 300 lotes em troca da aprovação do projeto do condomínio Alto da Boa Vista, em Sobradinho.

Na legislatura passada, dois deputados da Câmara de Brasília tiveram prisão decretada, ambos acusados de envolvimento com a máfia da grilagem de terras. José Edmar (PMDB) passou mais de dois meses preso, mas Pedro Passos (PMDB) conseguiu se esconder na casa de amigos e obteve decisão sustando sua captura. Reeleito, Passos foi apanhado na Operação Navalha, em abril, acusado de receber suborno da Construtora Gautama. Acabou detido.

O substituto de Roriz é acusado também de ter causado um prejuízo de R$ 1,7 milhão aos cofres públicos no período em que presidiu a Câmara. Ele aprovou ou fez gestões para aprovação de dezenas de projetos que mudavam a destinação de terrenos para permitir uso comercial, com grande elevação do valor. Ministério Público e Polícia Civil suspeitam que ele atuou diretamente na aprovação de dois projetos que afetaram terrenos adquiridos por Nenê Constantino, dono da Gol - e do cheque de R$ 2,2 milhões que, sacado em dinheiro por Roriz, precipitou a renúncia dele.

O advogado de Argello, Paulo Goyaz, alega que ele é corretor de imóveis e no período das transações não exercia mandato. ¿Caso tivesse recebido comissão de corretagem, o que ele nega, não haveria irregularidade¿, diz. ¿É da sua profissão.¿

Na legislatura passada, nada menos do que 37% dos 24 integrantes da Câmara do DF respondiam a algum tipo de processo. Boa parte deles integrava o bloco político de Roriz, que foi governador quatro vezes - a última delas entre 2002 e 2006.

Na atual legislatura, Roriz tem ao menos 8 aliados fiéis. Alguns respondem a acusações que incluem pistolagem e grilagem. As denúncias mais freqüentes contra o grupo se referem a corrupção, desvio de dinheiro público e outros crimes relacionados a improbidade. Argello, que comandou o grupo no período com maior freqüência de denúncias, é investigado em três frentes.