Título: Juventude volta a ser requisito para comissárias de bordo
Autor: Fitzpatrick, Michael
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/07/2007, Negócios, p. B11

Concorrência feroz no setor faz empresas buscarem equipes mais novas - e mais baratas

Como atendentes num setor altamente glamouroso, as mulheres conhecidas antigamente como aeromoças mudaram a imagem e também o título. E, se você pensa que as comissárias de bordo envelheceram, também está certo.

Como essa função vem sendo encarada cada vez mais como uma real profissão, a rotatividade hoje não é mais tão grande como era. Atualmente, a média de permanência no trabalho das comissárias de bordo é superior a sete anos e essa média vem aumentando.

Mas a luta das comissárias pelos seus direitos e para serem consideradas pessoas que executam um trabalho sério é longa e muito difícil. Na verdade, foi somente na década de 90 que elas conseguiram pôr um fim na discriminação por causa de peso - mesmo hoje algumas empresas aéreas ainda têm uma atitude rígida quanto às medidas da sua tripulação feminina: a Air India recentemente mandou que algumas fizessem dieta.

No entanto, ao mesmo tempo em que a comissária de bordo evoluiu da aeromoça, uma concorrência destruidora e cortes de custos estão levando as empresas aéreas a começarem novamente a cortejar as 'bonequinhas do ar'.

De acordo com um especialista do setor, as empresas estão, deliberadamente, dificultando o trabalho da sua tripulação mais velha, esperando a sua partida, que vai abrir espaço para uma equipe mais nova e barata. 'Milhares de comissárias de bordo deixaram o emprego depois dos atentados de 11 de setembro por causa de dispensas, cortes de salário e o desgaste emocional provocado por um trabalho altamente estressante', diz a socióloga Drew Whitelegg em seu livro Working the skies (Trabalhando os céus).

'As suas substitutas ganham muito menos, têm menos segurança no emprego e enfrentam condições de trabalho que tornam difícil harmonizar as obrigações de trabalho com as familiares', diz a socióloga.

'As empresas aéreas estão, basicamente, tentando voltar aos tempos em que não havia sindicatos, quando as mulheres eram contratadas com base na juventude e aparência e a inexperiência sugeria que os salários eram baixos', diz. 'Basta ver o perfil das comissárias de bordo na Ryanair e na EasyJet - trabalhar como aeromoça é como ter um 'ano sabático'. 'Seja impetuosa e viaje enquanto é jovem por alguns meses', é a mensagem.'

STATUS

A comissária de bordo Iris Peterson, de 85 anos, que se aposentou no mês passado da United Airlines, não se sente feliz com o retorno dos antigos valores. Mas, diante das falências no setor aéreo e das incertezas no campo da segurança, a comissária de bordo pode perder seu status profissional tão difícil de conquistar, se os patrões perseguirem essa idéia.

A tática de contratar jovens bonitas, que podem ser facilmente demitidas, era bem aceita por muitos viajantes dos anos pós-guerra, quando os homens da tripulação de cabine passaram a ser substituídos pelas aeromoças, que depois se tornaram as comissárias de bordo, que pareciam prometer mais do que um serviço com um sorriso.

'Essa sugestão sexual, descartada hoje pelas empresas aéreas e revogada pelas campanhas por direitos iguais, ainda continua, embora mais sutil. A tripulação da Virgin, por exemplo, teria o 'Virgin flair' (atrativo Virgin), já que você não pode, nos dias atuais, dizer que suas comissárias de bordo são mais sexys. Mas, no final, é a mesma coisa.'

Na Ásia, onde as empresas aéreas parecem ter menos escrúpulos quanto a isso e as mulheres têm mais dificuldade para garantir direitos iguais, a comissária de bordo realmente não fez progressos. Por exemplo, a Singapore Airlines ainda enfatiza o charme e a juventude da sua tripulação feminina. Enquanto no ocidente, uma tripulação de cabine mais antiga é formada por 'mulheres mais velhas, altivas', na Ásia esse trabalho ainda é visto como glamouroso e escapista.

Como um dos poucos trabalhos meio respeitáveis disponíveis para mulheres da classe média e educadas, que não exige que se fique acorrentado a uma mesa, a função da comissária de bordo ainda tem prestígio no Japão. É um trabalho tão procurado que somente as mais graduadas - no Japão é necessário formação para esse emprego - passam da primeira entrevista.

As empresas aéreas utilizam todos os tipos de táticas para encorajar o pessoal mais antigo a deixar o emprego. 'Os novos uniformes enfatizam uma figura sexy e as mulheres mais velhas não se sentem à vontade neles.'

O setor de aviação também está reduzindo os prêmios por antiguidade no posto. 'As horas de vôo aumentaram, o que pode ser absolutamente demolidor quando se é mais velho', acrescenta Whitelegg.

FRASES

Drew Whitelegg Socióloga

'As empresas aéreas estão, basicamente, tentando voltar aos tempos em que não havia sindicatos, quando as mulheres eram contratadas com base na juventude e aparência, e a inexperiência sugeria que os salários eram baixos'

'Os novos uniformes enfatizam uma figura sexy e as mulheres mais velhas não se sentem à vontade neles'