Título: Pesquisa usou Censo de 1991 como base
Autor: Dantas, Fernando
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/07/2007, Metrópole, p. C1

Cada 1% de lares incompletos significa 0,5% a mais na taxa de homicídios

A grande inovação no trabalho do economista Gabriel Hartung foi acrescentar indicadores relacionados à gravidez indesejada na sua pesquisa sobre as causas das diferenças nos índices de criminalidade dos municípios paulistas. Para calcular esses indicadores, ele tomou como base o conjunto das crianças entre 5 e 15 anos de idade no Censo de 1991 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Portanto, considerou cidadãos que teriam entre 14 e 24 anos em 2000. Examinando aquele grupo de crianças nove anos antes - e a idade das mães -, ele pôde estabelecer a proporção das que eram adolescentes quando deram à luz.

Ainda com base nas mesmas crianças do Censo de 1991, o economista calculou a proporção das que viviam em lares chefiados por mulheres sem marido ou companheiro do sexo masculino. A idéia é que esta condição pode ter sido um fator de maior propensão ao crime quando, uma década depois, na compilação do último censo, elas atingiram a faixa entre 15 e 25 anos, que é a de maior atividade criminosa.

Tanto num caso quanto no outro, os resultados foram calculados município a município. Todas os resultados obtidos no trabalho foram filtrados com técnicas estatísticas sofisticadas, que conseguem isolar um fator e determinar o real impacto na criminalidade.

O resultado foi que o indicador de mães solteiras (na verdade, o porcentual de crianças vivendo com mães solteiras no Estado) mostrou-se fortemente relacionado tanto com os crimes violentos quanto com os não violentos. Cada ponto porcentual a mais na taxa de crianças vivendo em lares com mães solteiras significava 0,5 ponto porcentual a mais na taxa de homicídios e 0,4 ponto porcentual a mais no índice de roubos e furtos.

O indicador de mães adolescentes é menos relevante como causa da criminalidade do que o de mães solteiras, mas, ainda assim, tem relação com a taxa de homicídios maior do que o indicador de desigualdade.

OUTROS INDICADORES

Já no caso de crimes contra a propriedade, os indicadores econômicos são importantes. Segundo o estudo, para cada ponto porcentual de redução na desigualdade, há uma queda de 0,5 ponto porcentual na taxa de roubos e furtos. Surpreendentemente, Hartung achou fraca relação entre os indicadores educacionais e a criminalidade.