Título: Base aliada decide enterrar reforma política
Autor: Madueño, Denise e Leal, Luciana Nunes
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/07/2007, Nacional, p. A13

Líderes admitem fracasso no tema em reunião do conselho político

Depois de quatro versões de propostas para tentar salvar sobretudo o financiamento público de campanha, os líderes do PT, PMDB e PC do B decidiram ontem, durante reunião do conselho político do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, enterrar a reforma política. ¿A reforma foi para o beleléu¿, resumiu o líder do PT na Câmara, Luiz Sérgio (RJ), ao reconhecer o fracasso de todas as tentativas, por causa da falta de consenso na própria base.

No encontro, os ministros Walfrido Mares Guia, das Relações Institucionais, e Paulo Bernardo, do Planejamento, tiveram noção das divergências entre os aliados, pois houve discussões acaloradas a favor e contra o financiamento misto de campanha, principal ponto da reforma.

A decisão vai no caminho contrário ao sugerido por Lula. Em Portugal, anteontem, ele disse que o País nunca esteve tão próximo de enfrentar ¿dois problemas cruciais¿ - as reformas política e tributária. Disse que havia ¿se não um consenso, uma maioria¿ para aprová-las.

¿Com a reforma tributária temos o mesmo problema da reforma política. Todo mundo quer ganhar mais um pouco e não perder em lugar nenhum¿, frisou Luiz Sério. Embora os líderes tenham falado em retomar a discussão no segundo semestre, ele não acredita nisso.

Segundo o líder, a reforma ¿voltará à estaca zero¿ se entrar na pauta após o recesso. ¿Pensávamos que sairíamos da reforma em uma Mercedes. Com a discussão já aceitávamos um fusquinha, mas chegamos à conclusão que se trata de uma bicicleta com pneu furado. Vamos ficar na mesma.¿

O petista previu que no máximo será votada a fidelidade partidária, porque atinge também vereadores, que pressionam por uma definição, de olho nas eleições do ano que vem.

SEMINÁRIO

O líder do governo na Câmara, José Múcio Monteiro (PTB-PE), também presente à reunião do conselho, entende que é preciso promover um seminário, no próximo semestre, para buscar consenso sobre a reforma política. ¿Se não sentarmos com calma para debater, estabelecer o que temos em comum, não temos como votar. Não podemos começar pelo dissenso¿, afirmou.

O presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), reagiu mal à decisão. ¿O foro é muito maior do que uma reunião de líderes e do que os partidos da base. Existem partidos que não apóiam o governo¿, disse. ¿Se prevalecer a idéia de que não tem mais nada para fazer, isso terá de ser dito no plenário¿, completou ele, prometendo manter o projeto na pauta.

Para enterrar formalmente a reforma, os partidos terão de aprovar requerimento retirando o texto da pauta. Na etapa atual, em que a votação começou, não cabe adiamento.