Título: Como nos tempos da República de Alagoas
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/07/2007, Nacional, p. A4

Em jantar de desagravo, só faltou Renan pedir que não o deixassem só

Sem condições políticas de presidir a sessão do Congresso que aprovou a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), na noite de quarta-feira, o senador Renan Calheiros (PMDB-AL) buscou refúgio num jantar de desagravo oferecido a ele pela Associação de Municípios de Alagoas (AMA). Estavam presentes cerca de 60 prefeitos e assessores, levados até Brasília num pacote turístico fechado; o governador de Alagoas, Teotônio Vilela Filho (PSDB); o senador João Tenório (PSDB) e deputados. Ao todo, o jantar reuniu perto de cem comensais num restaurante à beira do Lago Paranoá, na Asa Sul, a cerca de dois quilômetros do Congresso.

Renan foi aplaudido quando chegou ao jantar, oferecido num ambiente reservado. Recebeu aplausos de novo por seis vezes, duas delas em pé. A primeira, quando disse que tem sido fundamental em sua vida o apoio da mulher, Verônica, e dos alagoanos. A segunda, quando pôs um ponto final ao emocionado discurso.

Renan usou e abusou de frases de efeito. Disse ser vítima de uma guerra diária, jurou inocência, criticou a imprensa e pediu que os alagoanos não o abandonassem. Por pouco, não repetiu um bordão inventado pelo conterrâneo Fernando Collor, quando candidato à Presidência, em 1989: ¿Não me deixem só.¿

¿Não é mais um senador de Alagoas que interessa tirar. É a cadeira da presidência do Senado que querem¿, bradou Renan, sem definir quem está de olho no seu lugar. Disse que a elite do País não aceita que uma pessoa do Nordeste, de um Estado pobre, ocupe cargo tão importante. ¿É muito difícil defender os interesses dos Estados mais pobres do Nordeste.¿

Renan garantiu que provará inocência: ¿Fiz uma petição para que o Ministério Público me investigue, que faça uma devassa na minha vida.¿ Depois, virando-se ora para um lado, ora para outro, pediu que os alagoanos se unam. ¿Temos de ficar juntos. Hoje tivemos aqui uma presença marcante de Alagoas.¿

Após denunciar que ¿tentaram derrubar o presidente Lula no primeiro e no segundo turno¿, ele deu uma pista do que quis dizer quando declarou que os adversários terão de ¿sujar as mãos¿ se quiserem tirá-lo do cargo. ¿Muita gente no Senado sabe que sou inocente, mas querem me amedrontar para eu me afastar e não terem que sujar as mãos ao cometer o crime de cassar um inocente.¿

O governador tucano se disse constrangido. ¿Uma coisa é meu partido, outra sou eu. Sou amigo do Renan há mais de 30 anos¿, alegou Teotônio. Os prefeitos deixaram o local animados. Jarbas Omena (PTB), presidente da Associação de Municípios de Alagoas, frisou a importância de preservar Renan. Rosinha Jatobá (PMDB), prefeita de Jequiá da Praia, avisou que Alagoas não permitirá a queda do senador. ¿É um Estado de cabras machos, que não aceitarão injustiças.¿