Título: Venezuela quer usina nuclear em 10 anos
Autor: Chade, Jamil
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/07/2007, Internacional, p. A18

Membro da chancelaria revela ao `Estado¿ que país estuda plano para geração de energia atômica com fins pacíficos

A diplomacia venezuelana admite que o país poderá ter uma usina de energia nuclear nos próximos dez anos. Em declarações ao Estado, o diretor do Departamento de Assuntos Multilaterais da chancelaria da Venezuela, Rubén Darío Molina, confirmou que Caracas estuda desenvolver uma usina. Mas garantiu: ¿Será apenas para o uso pacífico de energia.¿

Na semana passada, durante visita a Moscou, o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, afirmou que não descartava a opção nuclear para o país. ¿No futuro, Caracas também poderá seguir nessa direção (nuclear)¿, afirmou. Chávez aproveitou ainda para defender o direito do Brasil e do Irã de desenvolver programas nucleares com fins pacíficos.

Segundo a diplomacia venezuelana, o plano, se for aprovado, não será adotado no curto prazo. Mas Molina confirma que de fato existe entre os formuladores da política energética da Venezuela a convicção da necessidade de pensar na construção de uma usina nos próximos anos.

O governo de Caracas acredita que precisa diversificar suas fontes de energia, apesar de ter amplas reservas de petróleo e gás. A Venezuela é o quinto maior fornecedor de petróleo dos Estados Unidos e, graças à alta no preço do barril, está financiando não apenas suas despesas internas, como pagando por iniciativas em outros países. Só para a África, os venezuelanos destinaram mais de US$ 16 milhões em projetos de cooperação e assistência.

Para garantir que essa seja uma opção real, a Venezuela não perde a oportunidade de assinar contratos de transferência de tecnologia com vários países. Contudo, as negociações com o Irã criaram desconfianças, até mesmo no Itamaraty. O Estado obteve um telegrama interno da chancelaria brasileira em que fica claro que a Embaixada do Brasil em Teerã questionou no ano passado os venezuelanos sobre a natureza dos acordos com o Irã.

O telegrama, enviado ao gabinete do chanceler Celso Amorim pela embaixada brasileira na capital iraniana, demonstra as dúvidas do Brasil sobre a movimentação de Caracas. A mensagem relata a conversa de um diplomata brasileiro no Irã com um representante da Embaixada da Venezuela, também em Teerã. O brasileiro pediu um encontro com os venezuelanos e disse que o governo da Venezuela lhe confirmou que o acordo com o Irã realmente continha artigos que previam a transferência de tecnologias entre os dois países.

Quanto ao projeto nuclear, Caracas acredita que pode contar com uma usina em pleno funcionamento ¿bem antes¿ de 2020. Uma das vantagens, segundo a diplomacia venezuelana, é o fato de o país contar com reservas de urânio.

Segundo dados oficiais, as reservas seriam de 50 mil toneladas. Mas o governo venezuelano diz que atualmente não tem a capacidade de enriquecer o material. Em 2005, foi divulgada na Argentina a notícia de que o governo venezuelano estaria comprando uma usina nuclear do governo argentino. Chávez negou a compra.

DIA DA INDEPENDÊNCIA

A Venezuela celebrou ontem com vários atos oficiais os 196 anos da Declaração de Independência e o Dia das Forças Armadas. A principal solenidade, liderada por Chávez, contou com um tradicional desfile militar e uma cerimônia na Assembléia Nacional.