Título: A meta de inflação e o mercado
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/07/2007, Economia, p. B2

A confusão criada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) na sua reunião de 26 de junho para a fixação da meta de inflação em 2009 começou a exibir seus graves inconvenientes e a surtir efeitos contrários aos que esperavam os ¿desenvolvimentistas¿.

A incerteza gerada a respeito da meta da inflação já se traduziu no mês de junho por um aumento dos juros exigidos pelos investidores em papéis prefixados, de cerca de 0,5 ponto de porcentagem, refletindo a elevação da meta aprovada pelo CMN de 4% para 4,5%. Paralelamente, registrou-se também uma elevação dos juros do DI futuro, que continuou ontem, passando de 10,75% para 10,78%, em janeiro de 2009, e de 10,77% para 10,80%, em janeiro de 2010, com muitos investidores que detêm posição comprada em CDI futuro apostando no aumento da taxa Selic. O aumento da taxa de juros sobre os títulos prefixados representa um gasto de mais de R$ 2,2 bilhões anualmente, que exigirá uma emissão suplementar de papéis do governo para pagar esses juros. Caso haja um aumento da inflação, provocado até pelo fato de o governo ter admitido uma meta mais frouxa, contra a opinião do Banco Central (BC), teria de ser feito novo aumento da taxa Selic, frustrando, assim, a expectativa dos ¿desenvolvimentistas¿, que acham que a elevação da meta de inflação permite ao BC mostrar-se mais liberal na fixação da Selic.

É certamente imprudente culpar apenas a indecisão em torno da meta de inflação pelo que ocorre com os juros futuros. Na economia essas variações são geralmente conseqüência de vários fatores, externos e internos, não apenas um, embora essa elevação da meta de inflação - quando o contrário era o esperado - tenha afetado o prestígio do BC do Brasil, que era tido como exemplo de firmeza, e para isso contribuiu também a pressão do presidente da República que enfraqueceu a autonomia operacional do BC.

A volatilidade do cenário internacional, com as dúvidas acerca da política do Fed (o banco central norte-americano), foi uma das influências externas. Considerou-se muito otimista, também, a expectativa do mercado sobre a evolução da inflação, especialmente levando em conta que uma desvalorização de 10% do real poderia se traduzir por uma elevação de 2 pontos de porcentagem na inflação no prazo de dois anos.

É preciso que tanto o governo como o BC tomem decisão mais firme e clara sobre a meta da inflação nos próximos anos.