Título: Kirchner quer Chávez no Mercosul
Autor: Palacios, Ariel
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/07/2007, Economia, p. B3

Presidente argentino telefona para Lula e pede que facilite o caminho para a entrada da Venezuela no bloco

O presidente da Argentina, Néstor Kirchner, informou ontem que telefonou para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva para pedir que facilite a entrada da Venezuela no Mercosul. Em comício na cidade de La Plata, ele disse que explicou a Lula - a quem chamou de ¿meu amigo¿ - que a Venezuela precisa ser ¿parte ativa do Mercosul¿.

Diplomaticamente, Kirchner não fez comentários sobre a animosidade entre o presidente venezuelano, Hugo Chávez, e o Senado brasileiro nem sobre as ameaças de Chávez de abandonar o ¿velho Mercosul¿.

Kirchner está preocupado com a eventual saída da Venezuela e mobiliza todas as forças para impedir que seu aliado Chávez fique fora do Mercosul. Em 2004, ele foi o principal defensor do ingresso do país no bloco. Mais do que simpatia política, Kirchner tem interesses financeiros e energéticos na permanência de Chávez.

O presidente argentino, que nesta semana se empenhou em pôr panos quentes na crise entre Brasil e Venezuela, disse ao presidente Lula que ¿está profundamente convencido de que se deve continuar avançando na construção do Mercosul e na união dos povos da América Latina¿. ¿Por isso, é importante limpar, facilitar o caminho para que a Venezuela possa ser parte ativa do Mercosul¿, disse ele. Para Kirchner, a Venezuela e o Brasil são sócios cruciais para a Argentina.

`BODE NA SALA¿

Nos últimos três anos, Chávez se tornou um comprador constante dos títulos da dívida argentina, os quais chama de ¿Bônus Kirchner¿. Além disso, socorre a Argentina na crise energéticas iniciada em 2004.

No país, existem profundas divisões sobre a posição a tomar em relação à Venezuela. No âmbito político, considera-se que a presença da Venezuela no Mercosul contribui para contrabalançar o peso do Brasil. Assim, a Argentina contaria com um aliado para pressionar o Brasil, se necessário.

Mas também se considera que o governo de Chávez pode ter o efeito do ¿bode na sala¿ - em alusão à alegoria popular de incomodar alguém, mas, posteriormente, o cheiro do animal acabar incomodando quem o pôs ali.

No setor empresarial, o interesse é manter a Venezuela dentro do bloco, já que dezenas de grandes empresas argentinas estão fazendo investimentos no país. Mas, ao mesmo tempo, há o temor de que os mercados internacionais considerem que a Argentina, por ser aliada da Venezuela, seja um país arriscado para investimentos.

Kirchner tampouco pretende confrontar-se com Lula. O Brasil é o principal aliado estratégico da Argentina na área política e comercial. Além disso, desde esta semana, o Brasil transformou-se em um crucial bote salva-vidas energético para a Argentina.