Título: 'Estamos unidos até que nova frase nos separe', diz senador
Autor: Scinocca, Ana Paula
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/07/2007, Economia, p. B3

Para Heráclito Fortes, visita de embaixador da Venezuela foi positiva

¿A crise acabou. Estamos unidos até que uma nova frase nos separe¿, disse ontem o presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado, Heráclito Fortes (DEM-PI), ao resumir o resultado da visita feita à Casa, ontem, pelo embaixador da Venezuela no Brasil, Julio García Montoya. O embaixador visitou os membros da Comissão para tentar reduzir o desgaste provocado pelas recentes declarações do presidente venezuelano, Hugo Chávez, que deu um ultimato ao Congresso brasileiro para que ratifique em três meses o ingresso do país no Mercosul.

Depois de reunião de mais de meia hora com os senadores da Comissão de Relações Exteriores da Casa, Montoya negou que Chávez tenha dado um ultimato ao Congresso. Segundo ele, o que existe, de fato é um ¿autocompromisso da Venezuela¿, um prazo imposto, segundo ele, pelo próprio país e não ao Congresso brasileiro.

¿Não há ultimato. O que há é um desejo e um compromisso nosso, o nosso prazo para que busquemos soluções¿, afirmou Montoya. O embaixador reconheceu, porém, que a visita aos senadores teve como objetivo ¿ajudar a superar qualquer tipo de desentendimento¿ entre o governo venezuelano e o Congresso brasileiro.

Ele negou, porém, que tenha levado um pedido de desculpas aos parlamentares. ¿Não há pedido de desculpas. Existem gestos que nos unem e os que nos separam. Esse (a visita ao Senado) nos une¿, afirmou. Ainda ontem, ele informaria Chávez da posição do Senado e o resultado da reunião, segundo informou um assessor do governo venezuelano ao Estado.

Para Heráclito Fortes, a visita foi positiva. ¿Não há intenção de relações azedas com o Brasil. Esperamos que os esclarecimentos sejam permanentes e que o diálogo seja construtivo¿, disse, ressaltando, porém, que ¿as agressões da Venezuela ao Brasil foram indevidas¿.

O senador considerou delicada a estimativa de um prazo para que o Senado ratifique a entrada da Venezuela no Mercosul. Ele alegou que, na verdade, é o país vizinho que enfrenta problemas de mercado para se adequar ao bloco comercial.

Também participaram da reunião de ontem os senadores Inácio Arruda (PCdoB-CE), Sérgio Zambiasi (PTB-RS) e Eduardo Suplicy (PT-SP).

TRAMITAÇÃO

O protocolo de adesão da Venezuela ao Mercosul foi aprovado pelos sócios do bloco em 4 de julho de 2006, mas enviado pelo Palácio do Planalto à Camara dos Deputados apenas em 26 de fevereiro deste ano.

A presidência da Câmara encaminhou o documento, 16 dias depois, às três Comissões que o examinarão - a Parlamentar Conjunta do Mercosul, a de Relações Exteriores e a de Constituição e Justiça - antes que chegue ao plenário. Atualmente, o caso está na Comissão de Relações Exteriores. Se aprovado pelos deputados, o protocolo seguirá para o Senado.

Além do ultimato de Chávez, outra declaração recente do presidente da Venezuela repercutiu mal no Congresso. Chávez afirmou que o Parlamento brasileiro era ¿papagaio de Washington¿.

A afirmação provocou reação indignada de parlamentares e até do presidente Lula. A declaração de Chávez, na ocasião, foi uma resposta à decisão da Comissão de Relações Exteriores de aprovar uma moção de apoio à RCTV, emissora de TV da Venezuela que não teve sua concessão renovada pelo governo chavista.