Título: Apesar do reforço militar, persiste a insegurança
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Fonte: O Estado de São Paulo, 13/07/2007, Internacional, p. A13

As forças americanas no Iraque foram até agora incapazes de estabelecer a segurança, mesmo a delas próprias. Os iraquianos continuam fugindo de suas casas, deixando as áreas de população mista e procurando segurança em bairros segregados por religião. Cerca de 32 mil famílias fugiram apenas em junho, segundo as cifras calculadas pela Organização Internacional de Migração, da ONU, e pelo governo iraquiano.

As forças dos EUA realizaram ofensivas para expulsar insurgentes de alguns redutos, mas muitos escaparam para novas regiões do país, lançando ataques onde a presença americana é mais fraca. E não houve nenhum sinal do progresso político substancial que o governo americano esperava ver no Iraque.

Os comandantes americanos estão cientes de que está acabando seu tempo para mudar essa realidade. O general David Petraeus, comandante-chefe das forças dos EUA no Iraque, fez vários esforços para desacelerar o relógio em Washington. Em cada tentativa, ele se acelerou. As últimas tropas de reforço chegaram ao Iraque no mês passado, e as autoridades militares originalmente esperavam ter um prazo até 2008 para apresentar um veredicto sobre a estratégia. Agora, esse prazo está encolhendo ainda mais porque o Congresso está pedindo respostas urgentes.

Os defensores do reforço das tropas insistem que pequenos passos poderão se transformar em sucessos maiores e mais duradouros se os legisladores forem pacientes. Alguns comandantes apontam para Ramadi, a capital da província de Anbar, como uma amostra do tipo de resultados que os militares querem alcançar com a estratégia vigente. A cidade, que já foi um campo de batalha, está agora em grande parte pacificada, tão calma que, em março, o primeiro-ministro iraquiano Nuri al-Maliki pôde fazer sua primeira visita oficial a ela.

Mas os militares salientam que foram necessários nove meses de esforços contínuos para fazer de Ramadi uma cidade relativamente pacífica. E, com sua mistura volátil de sunitas e xiitas, Bagdá apresenta um desafio bem mais complexo do que Ramadi, inteiramente sunita.

Nas últimas semanas, as forças recém-chegadas dos EUA foram concentradas no combate a membros do grupo sunita Al-Qaeda no Iraque, formado por combatentes iraquianos e estrangeiros. Generais de alta patente dizem que a estratégia é decisiva para pacificar Bagdá. Somente controlando os percursos na capital, e eliminando pontos de abrigo a militantes, os militares americanos e iraquianos conseguirão evitar os carros-bomba que alimentaram a violência sectária na cidade.

Mas alguns líderes iraquianos estão menos confiantes na estratégia. Mahmud Othman, um membro curdo do Parlamento iraquiano, disse que a estratégia corrente dos EUA pode ser bem sucedida para enfraquecer a Al-Qaeda no Iraque. Mas ele acha que os americanos não serão capazes de resolver o conflito sectário, nem de acabar com os choques entre grupos armados nos bairros de Bagdá.