Título: Ocupação custa US$ 250 mil por minuto
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Fonte: O Estado de São Paulo, 13/07/2007, Internacional, p. A13

Enquanto se discute o que fazer no Iraque, é bom ter dois fatos em mente.

Primeiro, de acordo com uma pesquisa realizada recentemente entre os iraquianos - que conhecem seu país muito melhor do que os americanos -, 21% acreditam que a presença militar dos EUA melhora a segurança, enquanto 69% acham que ela piora.

O segundo fato é que o custo médio da manutenção de um único soldado americano no Iraque aumentou para US$ 390 mil por ano, de acordo com um novo estudo do Serviço de Pesquisa Congressional dos EUA. Só neste ano fiscal, o Iraque custará ao contribuinte americano US$ 135 bilhões, o que representa pouco mais de US$ 250 mil por minuto.

Simplesmente os americanos não podem desejar permanecer no Iraque mais do que os iraquianos querem. Aquela pesquisa entre os iraquianos, realizada pela BBC e outras organizações noticiosas, indicou que apenas 22% apóiam a presença das tropas da coalizão, ante 32% em 2005.

Se os iraquianos estivessem pedindo ao Exército americano para ficar e deter a violência, talvez essa fosse a obrigação moral dos EUA. Mas como eles imploram pela saída e dizem que os americanos estão piorando as coisas, seria extraordinariamente arrogante ignorar essa vontade e permanecer indefinidamente só porque - como disse o presidente americano, George W. Bush, em discurso na terça-feira - trata-se de um 'trabalho necessário'.

Os EUA não podem arcar com um programa de saúde universal em casa, mas podem pagar mais de US$ 10 bilhões por mês para que soldados americanos tenham a chance de ser mutilados num país onde são indesejados? O gasto total da guerra no Iraque possivelmente bastaria para financiar a saúde de todos os americanos sem seguro por 30 anos.

Ou imaginem se os EUA investissem apenas duas semanas de gastos no Iraque para combater a malária, curar a verminose de crianças ao redor do planeta e reduzir a mortalidade materna. Esses projetos humanitários salvariam um grande número de vidas e ajudariam a recuperar o prestígio mundial dos Estados Unidos. Na terça-feira, Bush argumentou que os americanos deveriam dar uma chance ao reforço das tropas e alertou que os custos da retirada seriam enormes.

O mero fato de Bush afirmar algo não significa que este algo seja irreal. É verdade, por exemplo, que a retirada pode levar a horrores ainda piores no Iraque. Mas não se pode ignorar a possibilidade alternativa - prevista pela maioria esmagadora dos próprios iraquianos - de a partida tornar as coisas melhores.

Bush também está certo ao afirmar que o reforço acabou de chegar e seus resultados ainda podem ser modestos. A violência sectária diminuiu inicialmente em Bagdá, embora pareça aumentar desde maio. E é impressionante ver tribos sunitas cooperando com os americanos em Anbar contra jihadistas estrangeiros. No entanto, até mesmo a Zona Verde - a área superfortificada que abriga o comando americano e o governo iraquiano em Bagdá - é hoje um alvo diário; tropas turcas podem invadir o Curdistão; e preparem-se para batalhas entre curdos e árabes em Kirkuk.

E desde quando Bush anunciou o reforço de tropas, 600 soldados americanos foram mortos e 3 mil foram feridos.

Contudo, aconteça o que acontecer nas ruas patrulhadas pelos americanos, a única solução para o Iraque é política, não militar. O reforço destinava-se a criar espaço político para essa solução, mas isso não está acontecendo.

O progresso parou na erradicação do baathismo e na reforma constitucional, um terço do gabinete iraquiano boicota o governo e as pessoas recorrem à proteção de milícias sectárias. Segundo o próprio Pentágono, 52% dos moradores de Bagdá dizem que as milícias estão servindo aos interesses do povo iraquiano.

Nessa situação desesperadora, a última esperança de romper o impasse na política iraquiana surgirá se o Congresso americano forçar os políticos do Iraque a encarar a perspectiva da autonomia de seu país. Se o Congresso deixar claro que os EUA se dirigem para a saída - e não querem bases permanentes no Iraque -, poderá minar os extremistas e levar mais iraquianos a concentrarem-se na preservação de sua nação, e não na expulsão dos infiéis.

É bom que Bush ainda esteja confiante em relação ao Iraque, a ponto de dizer: 'Acredito firmemente que triunfaremos.' Aparentemente, os EUA estão se saindo quase tão bem quanto em outubro de 2003, quando Bush culpou os jornalistas por omitir boas notícias e declarou: 'Estamos realmente conseguindo um bom progresso.' Já em setembro de 2004, Bush assegurou que havia um 'progresso contínuo' no Iraque. Em abril de 2005: 'Estamos conseguindo um bom progresso no Iraque.' Em outubro de 2005: 'O Iraque tem obtido um incrível progresso político.' Novembro de 2005: 'Os iraquianos estão obtendo um progresso animador.'

Os americanos querem realmente continuar com esse tipo de progresso animador pelos próximos dez anos?

*Nicholas D. Kristof é colunista de 'The New York Times'