Título: Bush reconhece limitações no Iraque
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Fonte: O Estado de São Paulo, 13/07/2007, Internacional, p. A13

Ele fala em 'progresso relativo' após divulgação de relatório, mas defende estratégia; Câmara volta a fixar prazo para retirada

O presidente dos EUA, George W. Bush, reconheceu ontem que sua estratégia para o Iraque alcançou apenas um progresso limitado, mas reiterou que ainda é cedo para retirar as tropas americanas. Apesar disso, horas depois a Câmara dos Representantes aprovou uma lei determinando a retirada de tropas até 1º de abril.

A resolução, aprovada por 223 votos a 201, prevê que os militares americanos comecem a deixar o Iraque em 120 dias. Bush, porém, deve vetá-la. É a terceira vez, este ano, que a Câmara fixa prazo para a retirada. Os dois cronogramas anteriores foram vetados pelo presidente.

O anúncio de Bush foi feito após a divulgação de um relatório parcial da Casa Branca, que constatou um avanço 'satisfatório' em 8 das 18 metas políticas e de segurança estabelecidas pelos EUA no Iraque e 'insatisfatório' em outras 8. Em duas, a avaliação é 'mista'. De acordo com o documento, cuja versão final será divulgada em setembro, apesar dos progressos em algumas frentes alcançados pelo presidente iraquiano, Nuri al-Maliki, 'a situação da segurança no país continua complexa e extremamente desafiadora '.

O relatório afirmou ainda que o quadro econômico no Iraque é desigual, a política de reconciliação 'está se arrastando' e os confrontos vão crescer nos próximos meses. A maior parte das metas não atingidas diz respeito à reconciliação política - como a lei que divide os lucros do petróleo, cuja aprovação já foi adiada várias vezes. Bush, porém, disse que continua confiante. 'Por mais difícil que seja a luta, os custos de uma derrota seriam muito mais altos. Acredito que seremos bem-sucedidos.'

Os opositores da guerra usaram o documento como mais munição para pressionar o governo a trazer os soldados de volta. Mas Bush disse que ainda é 'prematuro' tratar do assunto, já que as últimas forças adicionais (28 mil homens) chegaram ao Iraque há menos de um mês.

Interrompendo Bush, o senador democrata Harry Reid disse: 'Chegou a hora de o presidente ouvir o povo americano e fazer o que for necessário para proteger a nação. E isso significa admitir que a política no Iraque foi conduzida na direção errada e falhou.' Bush afirmou, porém, que somente a partir do relatório final de setembro irá considerar 'tomar outras decisões, se necessário for'. Ele pediu que os políticos fizessem o mesmo e aguardassem a última versão do documento, organizado pelo general David Petraeus e o embaixador Ryan Crocker.

Ainda ontem, Bush negou que a Al-Qaeda esteja tão forte como antes dos atentados de 2001, como alguns jornais destacaram na véspera, citando fontes do serviço secreto americano. O repórter do Washington Post Bob Woodward publicou um artigo ontem afirmando que o diretor da CIA, Michel Hayden, informou em novembro que 'a incapacidade do Exército iraquiano de garantir a segurança parece irreversível'.

METAS ESTABELECIDAS

Alcançadas:

- Revisão constitucional

- Legislação para formar regiões semi-autônomas

- Comitês de apoio para plano de segurança de Bagdá

- Organização de três brigadas iraquianas treinadas para ajudar nas operações em Bagdá

- Garantia de que plano de segurança de Bagdá não crie esconderijos para criminosos, independentemente de filiação política ou sectária

- Instalação de estações de segurança planejadas em Bagdá

- Garantia de que direitos de partidos de minoria sejam respeitados

- Divisão de US$ 10 milhões da renda iraquiana para projetos de reconstrução do país

Não alcançadas

- Legislação permitindo membros do partido de Saddam Hussein ter cargos militares ou no governo

- Legislação que assegure distribuição igualitária dos lucros do petróleo e acesso à energia

- Dar autoridade suficiente para que comandantes iraquianos coloquem em prática essa legislação

- Garantia de que as forças de segurança tratem todos igualmente na execução da lei

- Aumento do número de forças de segurança iraquianas capazes de operarem de maneira independente

- Garantia de que políticos iraquianos não façam acusações falsas contra membros das forças de segurança do país

- Redução do nível de violência sectária e eliminação de milícias

- Comissão independente para eleições nas províncias

Para avaliação no futuro

- Legislação sobre anistia

- Legislação para desarmamento de milícias