Título: Para França, Brasil não representa pobres na OMC
Autor: Chade, Jamil
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/07/2007, Economia, p. B7

Ministro critica posição dos governos indiano e brasileiro nas negociações da Rodada Doha

O governo francês alerta que países como o Brasil e a Índia não representam a posição das economias mais pobres na Organização Mundial do Comércio (OMC) e critica o Itamaraty por não flexibilizar a sua posição nas negociações da Rodada Doha.

¿A OMC está em uma situação complicada e uma solução não é mais comercial, mas política. Não vamos aceitar abrir nossos mercados se outros não fizerem o mesmo ¿, afirmou Bernard Kouchner, ministro das Relações Exteriores da França.

Em resposta a perguntas do Estado sobre o comportamento protecionista da França no setor agrícola, Kouchner preferiu deixar claro que Paris não considera o Brasil entre os países em desenvolvimento que precisariam ser ajudados.

¿Um país emergente, como o Brasil ou a Índia, não pode ser comparado com os países em desenvolvimento. Freqüentemente, confundimos os interesses dos países emergentes com o dos países em desenvolvimento¿, disse. ¿O interesse dos países mais pobres é que tenhamos um equilíbrio, não o interesse dos países emergentes.¿

Kouchner destaca que o Brasil vem apresentado uma produtividade ¿esplêndida¿ em sua produção agrícola e industrial, mas nem sempre favorece os países mais pobres. Segundo ele, a abertura dos mercados europeus aos produtos nacionais acabariam afetando a capacidade de economias africanas de exportar para a UE.

Desde os anos 60, os europeus contam com acordos de preferências tarifárias com suas ex-colônias. Mas teses apresentadas na OMC indicam que esses acordos nunca deram resultados por causa das regras do comércio.

Kouchner, que no passado defendeu o Brasil na questão da quebra de patentes de remédios, quando era apenas um ativista, garante que seu governo continuará adotando uma posição firme na OMC e não pretende modificar a suas propostas de liberalização.

¿Já equacionamos nossos subsídios agrícolas até 2012 e não iremos além do que já fizemos¿, disse. Para o francês, qualquer concessão a partir de agora terá de ser feita pelos americanos. ¿A bola está no campo deles¿, afirmou.

UE INGÊNUA

Ontem, o secretário de Assuntos Europeus da França, Jean-Pierre Jouyet, ainda afirmou, em entrevista publicada no jornal La Tribune, que o Brasil não apresentou uma posição de reciprocidade nas negociações da OMC e pede que Bruxelas deixe de ser ¿ ingênua¿.

Sua queixa era de que os europeus teriam feito propostas de corte de tarifas no setor agrícola sem que o Brasil tivesse respondido com um corte de tarifas para os produtos industriais europeus. ¿Os brasileiros não fizeram os esforços suficientes¿, disse ele.

¿A França não se sentirá culpada por causa de novas grandes potências emergentes, cuja força econômica no âmbito econômico é pelo menos igual a dos países ricos ¿, disse.

Jouyet reafirmou a posição da França em propor que os países que não cumpram o Protocolo de Kyoto enfrentem barreiras comerciais para exportar. Para ele, ¿ há espaço¿ na OMC para que a medida seja discutida. Um dos objetivos seria atingir a China.