Título: Inflação 'oficial' de junho na Argentina fica em 0,4%
Autor: Palacios, Ariel
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/07/2007, Economia, p. B9

Economistas independentes calculam que índice `real¿ superou 1%

O Instituto Nacional de Estatísticas e Censos (Indec) da Argentina anunciou ontem que a inflação ¿oficial¿ de junho foi de 0,4%. Com esse resultado, a inflação acumulada no primeiro semestre do ano ficou em 3,9%.

Mas economistas independentes afirmam que a inflação ¿real¿ de junho foi superior a 1%. Funcionários dissidentes do Indec sustentam que junho foi o sexto mês de manipulação ¿descarada¿ do índice inflacionário por parte do governo de Néstor Kirchner. Segundo os economistas e os dissidentes do Indec, a inflação acumulada desde o início do ano já ultrapassa os 10%.

Os economistas acusam o governo de nem sequer realizar uma ¿maquiagem¿ bem feita, já que, na semana passada, o próprio Indec anunciou que os preços dos supermercados em junho haviam subido 3,1%. Posteriormente, ao perceber a gafe, as autoridades do Indec colocadas por Kirchner na instituição evitaram falar sobre o assunto.

Para muitos analistas, a inflação é mais uma decisão política do que um cômputo. Eles ressaltam que Kirchner, ao longo de 2006, tentou controlar a inflação por meio do controvertido congelamento de preços.

Ao ver que a medida fracassava, no fim do ano passado, Kirchner optou por camuflar o índice. Para isso, em janeiro, decretou uma inédita intervenção no Indec, que incluiu a demissão de funcionários que se recusavam a ser cúmplices da manipulação do índice de inflação.

Os analistas sustentam que o lançamento da primeira-dama, Cristina Fernández de Kirchner, às eleições presidenciais de outubro agravará a manipulação do governo no índice da inflação nos próximos meses.

Segundo os economistas, o governo pretende encerrar o ano com uma inflação imaginária de 8% a 9%.

No entanto, afirmam, a inflação real seria significativamente superior. ¿A inflação real deste ano estará entre 14% e 15%¿, afirma o economista Daniel Artana, chefe da Fundação de Investigações Econômicas Latino-americanas (Fiel)

ENERGIA

Para piorar a situação de Kirchner na guerra contra a inflação, empresários argentinos já estão preocupados com o preço que o governo brasileiro vai cobrar do país para enviar mais energia elétrica. O valor do megawatt/hora brasileiro é de 330 pesos (cerca de R$ 215,12), enquanto que no mercado local o valor é de 80 pesos (em torno de R$ 49,72) se produzido por hidrelétricas ou termoelétricas, segundo cálculos da Cammesa (entidade que administra o mercado atacadista de energia elétrica). A queixa dos empresários é que o governo argentino pagará mais caro ao Brasil, ao mesmo tempo em que Kirchner se nega a autorizar aumentos aos geradores locais de energia.

NÚMEROS

0,4 % foi o índice oficial de inflação da Argentina em junho

3,9 % foi a inflação oficial acumulada no primeiro semestre no país

10 % é a inflação do primeiro semestre calculada por analistas externos

8 % a 9 % é a inflação que o governo estima para 2007