Título: Argentina: 'Energia total' contra crise
Autor: Guimarães, Marina
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/07/2007, Economia, p. B3

Kirchner reúne-se com petrolíferas e pede que empresas ofereçam às indústrias combustível líquido pelo preço do gás

O ministro de Planejamento Federal da Argentina, Julio De Vido, anunciou na noite de ontem um plano denominado ¿Energia Total¿, pelo qual as companhias petrolíferas e refinarias instaladas no país vão oferecer às indústrias a possibilidade de substituir o gás natural que utilizam em suas máquinas por combustível líquido pelo mesmo valor.

Em entrevista coletiva na Casa Rosada, após reunião com executivos das empresas Repsol YPF, Petrobrás e Esso, da qual o presidente Néstor Kirchner participou, De Vido disse que o plano entra em vigor hoje.

Segundo o ministro, o programa vai permitir uma economia de 5.800 milhões de metros cúbicos de gás e 400 mil megawatts por dia. De Vido disse que uma parte desse gás e dessa eletricidade será distribuída ao consumo residencial e aos clientes com contratos denominados firmes, que não podem ser interrompidos. Outra parte, ¿do gás economizado diariamente será para a geração elétrica em plantas de ciclo combinados ou duais, que hoje estão trabalhando com óleo diesel e assim renderão 20% mais¿, explicou De Vido.

O ministro disse ainda que o governo valoriza o esforço que o setor produtivo faz para ajudar a superar o problema energético. E, segundo ele, o mercado de gás será ¿normalizado nas próximas horas, se as condições climáticas o permitirem¿.

A VEZ DO PARAGUAI

Além de restringir as exportações de gás natural para o Chile, ontem a Argentina limitou também a venda de gás liquefeito de petróleo (GLP) ao Paraguai. A medida provocou reclamações por parte do governo do presidente Nicanor Duarte, porque a Argentina é o principal fornecedor de GLP ao país, que o utiliza nas residências e nas indústrias.

O mercado paraguaio consome cerca de oito milhões de quilos de GLP por mês. Segundo a imprensa local, em Assunção, o consumo diário do produto é de cerca de 270 mil quilos e já está faltando botijão de gás. Ontem, somente dois caminhões com um carregamento de aproximadamente 44 mil quilos de GLP fizeram desembarques na capital paraguaia.

Paraguai e Chile precisam do fornecimento de gás argentino. O Paraguai não tem gasoduto e depende completamente do GLP. Já o Chile é dependente do gás natural, que é transportado pelo gasoduto que liga o país à Argentina.

A temperatura caiu em toda a Argentina e o país vive os dias mais frios do ano. A mínima média é de - 2°C e a máxima não supera os 12°C.

Com isso, a demanda interna de gás e de eletricidade aumentou, colocando à prova o sistema energético que já vem funcionando com toda a capacidade. É para atender à demanda extra doméstica que as exportações para o Chile estão cada vez mais reduzidas.

Na manhã de quarta-feira, o Conselho Nacional de Energia chileno informou que seu país não recebeu o fornecimento de gás da Argentina. Em nota oficial emitida ontem, o CNE afirmou que recebeu apenas 500 mil metros cúbicos de gás. A demanda da capital chilena é de aproximadamente 1,2 milhão de metros cúbicos.

O corte de gás não foi só para Chile e Paraguai. Internamente, os postos de serviços que abastecem os carros movidos a gás (GNC) também deixaram de receber o produto. A interrupção ocorreu na noite de terça-feira.

Para evitar a revolta dos cerca de 30 mil taxistas de Buenos Aires e áreas urbanas próximas , o governo negociou com a Petrobrás e a YPF uma redução nos preços da gasolina para abastecer esses carros. A medida vai valer enquanto durar o frio e os cortes de gás.

Inicialmente, a medida atingia somente os postos das empresas na capital e parte da Província de Buenos Aires. Ontem, foi ampliada para todo o país. Pela decisão, os motoristas poderão abastecer com gasolina comum ou super, pagando o mesmo preço do gás veicular.