Título: Brasil vai pressionar China sobre câmbio
Autor: Oliveira, Ribamar
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/07/2007, Economia, p. B4
Governo atende a pedido de secretário do Tesouro dos EUA, diz Mantega
A pedido dos Estados Unidos, o governo brasileiro vai lutar, nos fóruns internacionais, para que a China ¿flexibilize¿ sua taxa de câmbio, anunciou ontem o ministro da Fazenda, Guido Mantega. ¿O secretário do Tesouro americano (Henry Paulson) nos convidou a ajudá-lo nessa tarefa¿, disse. Paulson teve um encontro com o presidente Lula e com Mantega na última quarta-feira.
¿O Brasil declarou seu interesse em ser mais atuante nessa questão do câmbio. Vamos levar isso a nível de negociação de Estado¿, acrescentou, indicando que a atuação do governo brasileiro será feita em conjunto com o americano.
Mantega disse que adotará uma posição firme e clara sobre o assunto já na próxima reunião do Fundo Monetário Internacional (FMI), marcada para outubro. ¿Eu me manifestarei de forma mais veemente contra isso¿ (a manutenção da taxa de câmbio de forma artificial pelo governo chinês)¿, afirmou.
Ele informou que pretende também colocar o assunto em discussão na reunião do G-20, grupo dos países em desenvolvimento, do qual a China também participa. O Brasil, lembrou Mantega, é o coordenador do G-20 financeiro, onde a questão será tratada.
As informações do ministro foram divulgadas, ontem, durante audiência pública na Comissão de Finanças e Tributação da Câmara dos Deputados e em entrevista após o evento. Mantega fez duras críticas ao que chamou de ¿artificialismo¿ do câmbio chinês.
Segundo ele, ¿a China tenta ganhar vantagem comercial por meio da taxa de câmbio e não pela melhora da produtividade de sua economia¿.
Para Mantega, a atual vantagem competitiva dos produtos chineses poderia desaparecer se o câmbio daquele país não fosse mantido artificialmente desvalorizado. ¿Se a taxa de câmbio da China fosse valorizada em 30%, eles não seriam competitivos no setor têxtil.¿
Mesmo enfrentando as dificuldades atuais com a competição dos produtos chineses, principalmente nas áreas de têxtil, calçados, artefatos de couro e móveis, Mantega disse que o caminho do artificialismo cambial não interessa ao Brasil. ¿Nos recusamos a jogar dessa maneira¿, afirmou. ¿Mas, se houver abuso, vamos coibi-lo com as armas que forem necessárias¿, acrescentou.
A taxa de câmbio na China é fixa, definida pelo governo. Depois de uma longa luta, o governo dos Estados Unidos conseguiu que o governo chinês fizesse uma pequena flexibilização, considerada insuficiente pelos demais países.
DOENÇA HOLANDESA
Mantega descartou o uso de medida para restringir a entrada de capitais externos no Brasil e, com isso, impedir uma maior queda do dólar, que ontem fechou em R$ 1,87, menor cotação desde 17 de outubro de 2000. Mantega disse que é preciso tomar cuidado com essas medidas porque poderão trazer mais prejuízo do que benefício. ¿Não podemos colocar em risco o que já conquistamos.¿
Ele citou o caso da Colômbia, que recentemente estabeleceu um compulsório sobre a entrada de capitais estrangeiros e obteve um resultado oposto ao que pretendia. ¿Eles se deram mal, pois a decisão não evitou a valorização da moeda e provocou turbulência no mercado.¿
A Rússia foi outro exemplo lembrado por Mantega. Segundo ele, o governo russo elevou os tributos sobre o petróleo e, com os recursos, criou um fundo destinado a ajudar os setores afetados pelo câmbio. ¿Mas vai ver a inflação que tem lá¿, disse aos deputados.
Mantega disse que a valorização da taxa de câmbio é hoje um fenômeno mundial que preocupa quase todos os governantes. Segundo ele, até mesmo o novo presidente da França, Nicolas Sarkozy, manifestou preocupação com a cotação do euro frente ao dólar. A moeda da União Européia atingiu nesta semana sua maior cotação frente ao dólar.
Para o ministro da Fazenda, a atual valorização do real é efetivamente um problema. ¿O problema do câmbio existe, não vamos negar. Mas ele decorre de uma virtude da economia brasileira. Estamos pagando o preço do bom desempenho do comércio exterior¿, disse.
Mantega negou que esteja ocorrendo no Brasil a chamada ¿doença holandesa¿, que é o fenômeno em que o panorama internacional favorece o aumento das exportações de matérias-primas de um país, em detrimento das exportações de produtos industriais. Esse processo levaria a uma desindustrialização do País. ¿Não está havendo nada disso porque a indústria brasileira está crescendo¿, disse. Ele lembrou que a previsão de crescimento de 4,8% da indústria neste ano desmente a tese da ¿doença holandesa¿.
FRASES
Guido Mantega Ministro da Fazenda
¿O secretário do Tesouro americano (Henry Paulson) nos convidou a ajudá-lo nessa tarefa¿
¿O Brasil declarou seu interesse em ser mais atuante nessa questão do câmbio. Vamos levar isso a nível de negociação de Estado¿
¿O problema do câmbio existe, não vamos negar. Estamos pagando o preço do bom desempenho do comércio exterior¿