Título: Retirada pode fragmentar país, alerta chanceler
Autor: Sanger, David E.
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/07/2007, Internacional, p. A12

Zebari adverte sobre risco de conflito regional se tropas americanas saírem em breve do Iraque

Líderes iraquianos alertaram ontem que o país pode mergulhar numa guerra ainda mais sangrenta se os EUA retirarem suas tropas em breve. As advertências foram feitas depois que o jornal The New York Times afirmou que a Casa Branca já está debatendo a volta dos 157 mil soldados americanos que estão no Iraque.

¿Isso (a retirada antecipada) poderia causar uma guerra civil total, a divisão do país, além de conflitos regionais. O Iraque entraria em colapso¿, afirmou o chanceler iraquiano, o curdo Hoshiyar Zebari. ¿Temos nos reunido com membros do Congresso (americano) para explicar que uma retirada rápida levaria a um vácuo de segurança.¿ Salim Abdullah, porta-voz do bloco sunita no governo, disse que ¿uma saída precipitada eliminaria todos os aspectos positivos da presença militar dos EUA¿.

Para os políticos iraquianos, as forças de segurança nacionais ainda não estão prontas para assumir o controle do país. ¿As tropas americanas têm de ficar até as nossas forças serem capazes de alcançar a paz em todas as partes do Iraque¿, disse senador sunita Adnan al-Dulaimi. O despreparo dos soldados iraquianos ficou claro no fim de semana, quando homens-bomba e ataques a tiros mataram mais de 250 pessoas. No pior ataque - em Armili, no norte do país -, mais de 160 pessoas foram mortas no sábado.

Moradores de Armili fizeram protestos para criticar as forças de segurança na Província de Salahudin. O governador da região, Hamad Hmoud Shagti, informou que 250 policiais extras foram enviados para Armili. Com 26 mil habitantes, a cidade tinha apenas 30 policiais antes do atentado.

Após o banho de sangue do fim de semana, o vice-presidente sunita do Iraque, Tareq al-Hashemi, disse que a população tem o direito de se armar para se defender. ¿A população espera que o governo proteja sua vida, suas terras, sua honra e suas propriedades. Mas, no caso de incapacidade (do governo), ela não tem outra escolha a não ser assumir a responsabilidade de se defender¿, afirmou o vice. Hashemi também disse que a saída ¿prematura¿ das tropas americanas criaria um ¿vácuo de segurança¿ em todo o país.

AMEAÇA NO CURDISTÃO

A retirada americana não é, entretanto, a única ameaça à estabilidade no Iraque, de acordo com o chanceler Zebari. Ele acusou o governo da Turquia de manter 140 mil soldados na fronteira com o Curdistão iraquiano, uma região autônoma no norte do Iraque. A área serve de base para os rebeldes separatistas turcos do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), que lançam ataques contra as forças da Turquia.

¿O receio da Turquia (em relação a ataques do PKK) é legítimo, mas isso (a grande presença militar) não pode acontecer¿, disse Zebari. ¿A solução seria Ancara retirar suas tropas da fronteira com o Iraque.¿

Se as acusações do chanceler estiverem corretas, o número de militares turcos na fronteira se aproximaria ao de soldados americanos em todo o Iraque (157 mil). O governo turco não comentou as declarações de Zebari. Em Washington, um funcionário do Pentágono disse, sob anonimato, que os satélites americanos não detectaram uma presença militar turca intensa. O porta-voz do Pentágono, Bryan Whitman, disse que a preocupação da Turquia quanto ao PKK é legítima, ¿mas uma incursão no Iraque não é a maneira de resolver esse problema¿.