Título: Kirchner garante apoio a ministra
Autor: Palacios, Ariel
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/07/2007, Internacional, p. A14
Presidente diz-se satisfeito com explicação sobre caso `banheirogate¿
O presidente argentino, Néstor Kirchner, fez questão de assegurar a permanência da ministra da Economia, Felisa Miceli. Ela é a protagonista de um escândalo aberto depois que policiais que fazem a segurança do ministério encontraram uma sacola de papelão com US$ 241 mil - segundo informações iniciais - no banheiro do gabinete dela.
O anúncio foi feito pelo chefe do gabinete de Kirchner, Alberto Fernández. ¿O presidente e eu ficamos satisfeitos com as explicações de Felisa. E achamos que não há nenhuma possibilidade de que ela seja acusada de algum delito¿, disse Fernández, braço direito do presidente, tentando pôr panos quentes no escândalo que o ácido humor portenho batizou de ¿banheirogate¿.
Para reforçar o respaldo presidencial, Felisa foi convidada ontem para estar, com o restante do gabinete, no palanque onde Kirchner fez um discurso para celebrar o Dia da Independência na cidade de Tucumán, norte da Argentina.
No entanto, apesar do respaldo do governo, os boatos no âmbito político portenho indicam que Felisa deve ter vida curta no gabinete. Além disso, já há especulações sobre seus potenciais sucessores. Entre os nomes mais cotados para chefiar o ministério até o fim do mandato de Kirchner, em 10 de dezembro, está o do secretário da Fazenda, Carlos Mosse, do secretário de Indústria e Comércio, Miguel Peirano, e até o do polêmico secretário de Comércio Interior, Guillermo Moreno, famoso por ser o homem a quem Kirchner entregou a missão de combater a inflação.
Analistas argentinos indicam que Felisa poderia atrapalhar o governo, que está atarefado com a candidatura da primeira-dama e senadora Cristina Fernández de Kirchner para as eleições presidenciais de outubro. O escândalo protagonizado por Felisa poderia abalar a imagem de Cristina, que pretende suceder ao marido.
Para os analistas políticos, o respaldo dado pelo governo a Felisa é temporário, já que Kirchner teria ficado furioso com a atitude da ministra. Caso nos próximos dias as pesquisas de opinião pública indiquem que o escândalo está abalando a candidatura da primeira-dama, Kirchner deverá afastar Felisa.
O ¿banheirogate¿ começou há duas semanas, quando o jornal dominical Perfil informou que os policiais - que realizam rondas de vigilância dentro do Ministério da Economia - tinham encontrado a bolsa de papelão no banheiro particular da ministra.
Segundo Perfil, dentro da sacola de papel havia US$ 241 mil em cédulas de euros, dólares e pesos.
Dias depois, o porta-voz do Ministério da Economia, Silvio Robles, confirmou a existência da sacola de papel, mas garantiu que ela continha bem menos dinheiro: US$ 64 mil. Segundo Robles, o montante seria utilizado em uma ¿operação familiar imobiliária que não foi concretizada¿.
Mas as suspeitas sobre Felisa continuaram, apesar da explicação do porta-voz, já que a ministra - segundo sua declaração de bens à Receita Federal - teria apenas US$ 25 mil.
A ministra afirmou no fim de semana, em declarações a três jornais de Buenos Aires, que uma substancial parte do dinheiro era de seu irmão, um produtor de shows de tango que no passado foi dono de um laboratório farmacêutico que fabricava remédios para problemas de impotência.