Título: Relatório mostra deterioração do abastecimento de energia no país
Autor: Palacios, Ariel
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/07/2007, Economia, p. B13
Dados da British Petroleum mostram que consumo cresceu e reservas de petróleo e gás só baixaram
Balanço mundial de energia, divulgado pela British Petroleum (BP), mostra que a situação na Argentina vem se deteriorando rapidamente nos últimos anos. Segundo o relatório da BP, as reservas de petróleo e gás da Argentina baixaram de forma consistente nesta década, enquanto o consumo cresceu com vigor, puxado pelo bom desempenho da economia pós-crise.
'A Argentina caminha para uma situação delicada. O governo terá de escolher entre abastecer as casas ou as indústrias. A três meses das eleições, ele escolheu abastecer as residências, mas a falta de investimento tende a agravar a situação nos próximos anos, principalmente no inverno', diz Fabio Giambiagi, economista do Ipea, que já viveu na Argentina.
O problema mais preocupante está na produção de gás natural. O combustível é o principal item da matriz energética, responde por 50% da oferta de energia do país. Mesmo ante tamanha relevância, as reservas provadas no País caíram de 780 bilhões de metros cúbicos, em 2000, para 420 bilhões de metros cúbicos no ano passado. Em seis anos, as reservas de gás baixaram 46,1%.
A produção anual de gás cresceu de 37,4 bilhões para 46,1 bilhões de metros cúbicos por ano. Tudo para dar conta do consumo, que se expandiu de 33,2 bilhões de m3, em 2000, para 41,8 bilhões de m3, em 2006.
A falta de gás é o principal motivo para o presidente Néstor Kirchner ter assinado com o colega boliviano, Evo Morales, um contrato para elevar as compra da Argentina para 27,7 milhões de metros cúbicos de gás por dia.
MATRIZ
'A opção energética da Argentina só poderia ser feita por um país que tem muito gás, como a Rússia ou a Holanda. Mas não é o caso. Eles terão de rever a matriz nos próximos anos, isso é inevitável', analisa Edmar Luiz Fagundes de Almeida, pesquisador que integra -o Grupo de Economia da Energia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Como o gás, a produção de petróleo também caiu. Em 2000, a Argentina produzia 819 mil barris de petróleo por dia. No ano passado, a produção baixou para 716 mil barris/dia. A capacidade de refino está estagnada, há cinco anos, em 611 mil barris/dia. A situação é decorrência da falta de investimentos provocada pela política de contenção tarifária.
'Nenhum governo desde a crise mexeu nessa política. O que se vê agora é o resultado direito dessa decisão', diz. Os preços do gás, por exemplo, estão defasados. As companhias na Argentina recebem US$ 1 por milhão de BTU. No Brasil, a Petrobrás recebe entre US$ 4 e US$ 5 pelo mesmo volume.