Título: Dólar cai abaixo de R$ 1,90 pela primeira vez desde 2000
Autor: Modé, Leandro
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/07/2007, Economia, p. B14

Feriado em SP reduz liquidez, mas ambiente externo favorável se sobrepõe e valoriza o real

Pela primeira vez desde 23 de outubro de 2000, o dólar recuou para menos de R$ 1,90. A moeda americana encerrou a segunda-feira em queda de 0,26%, cotada em R$ 1,898. Por causa do feriado no Estado de São Paulo, o volume negociado foi bem menor que em dias úteis normais - cerca de R$ 170 milhões. Para se ter uma idéia, na sexta-feira passada, o valor foi mais de dez vezes maior.

De acordo com analistas, a tendência para o mercado de câmbio ainda é de valorização do real, mas em menor intensidade que nos últimos meses. 'O fluxo de dólares para o Brasil é enorme, seja via balança comercial, investimento direto estrangeiro, recursos para bolsa de valores e renda fixa de longo prazo', sintetizou Carlos Eduardo Souto Uchôa, operador de mercados internacionais do Banco Modal.

Marco Melo, chefe da área de pesquisa da Corretora Ágora Sênior, concorda. 'Não há novidade no cenário. O fluxo forte de dólares é o fator determinante', disse. 'A cotação de R$ 1,90 é apenas mais uma barreira psicológica batida.' O nível de R$ 2, que causou grande alvoroço no mercado, foi superado no dia 15 de maio.

O Relatório de Mercado divulgado ontem pelo Banco Central (BC) mostrou que a expectativa média das instituições financeiras para o dólar no fim do ano subiu levemente, de R$ 1,90 na pesquisa realizada no dia 29 de junho, para R$ 1,92 no levantamento feito sexta-feira passada, 6 de julho.

Além dos dados relativos ao fluxo cambial, os analistas acreditam que a estratégia do BC no mercado de câmbio também é importante para o rumo da cotação do dólar. Muitos notaram uma redução de apetite da autoridade monetária nas últimas semanas. De fato, segundo informa a coluna de Celso Ming, o BC adquiriu, em média, US$ 260 milhões por dia em julho, ante US$ 650 milhões em maio, por exemplo.

'Ainda assim, compras na faixa de US$ 200 milhões a US$ 300 milhões são substanciais', disse Uchôa. 'É que ficamos 'mal-acostumados' com as intervenções entre US$ 500 milhões e US$ 600 milhões por dia.'

BONS VENTOS EXTERNOS

A segunda-feira foi positiva nos mercados internacionais, o que provocou valorização de moedas de países emergentes. O peso colombiano, por exemplo, ganhou 0,63% ante o dólar, enquanto o mexicano se valorizou 0,10%. A lira turca apresentou alta de 0,40%.

'Se o mercado tivesse tido a liquidez normal, provavelmente o real teria se valorizado ainda mais', observou Uchôa. Nos Estados Unidos, o Índice Dow Jones avançou 0,28% e a bolsa eletrônica Nasdaq, 0,13%. A Bolsa de Londres subiu 0,34% e a de Frankfurt, 0,36%.

Outro fator que influenciou positivamente o mercado de câmbio ontem foi o resultado da balança comercial na primeira semana de julho - superávit de US$ 927 milhões. No acumulado de 2007, o saldo positivo já beira US$ 22 bilhões.

Hoje, os investidores estarão atentos ao discurso do presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), Ben Bernanke, num seminário em Cambridge, Massachusetts. Ele falará sobre inflação. Balanços de empresas relativos ao 2º semestre também devem agitar o mercado. Ontem, a Alcoa divulgou resultado abaixo do esperado após o fechamento das bolsas. A reação aos números deve ocorrer hoje.