Título: Produção sente efeitos do câmbio
Autor: Veríssimo, Renata
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/07/2007, Economia, p. B15
CNI mostra que alta da demanda é mais atendida por importações
A valorização do real em relação ao dólar diminuiu a competitividade dos produtos brasileiros e tem levado à substituição de produtos nacionais por importados no mercado doméstico. Em alguns setores, a entrada das importações já provoca queda na produção. É o que afirma um estudo da Confederação Nacional da Indústria (CNI), obtido com exclusividade pelo Estado. O trabalho mostra que o crescimento do consumo vem sendo atendido, cada vez menos, pela indústria nacional e, cada vez mais, pelo aumento dos produtos importados.
'A demanda tem crescido, mas essa demanda nova tem sido atendida pelos importados', resume o economista Paulo Mol, da CNI. Ele avalia que o vigor da atividade industrial nos últimos meses poderia ser maior se o aumento da demanda estivesse sendo atendido pela indústria nacional. A produção física da indústria de transformação cresceu 4,4% de janeiro a maio deste ano ante o mesmo período de 2006, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Por outro lado, o aumento da quantidade importada foi cinco vezes maior: 22,1%.
A indústria de transformação, historicamente, lidera o crescimento da economia em períodos de expansão significativa da demanda interna. Segundo a CNI, a demanda cresceu mais de 4% em 1993, 1994, 2000, 2004 e 2006 e, com exceção do ano passado, a indústria de transformação cresceu tanto ou mais do que isso. Em 2006, no entanto, o setor industrial cresceu 1,6%, e o consumo interno, 5,1%. Este quadro se mantém em 2007.
Cruzando dados do IBGE e da Fundação Centro de Estudos de Comércio Exterior (Funcex), o levantamento da CNI divide os setores industriais em três blocos. No primeiro, composto por seis setores, há queda da produção interna e forte expansão dos importados quando se comparam os cinco primeiros meses de 2006 e 2007. Entre eles, estão calçados e madeira, fortemente afetados pelo câmbio. O segundo grupo é formado por sete setores em que a diferença entre o ritmo de crescimento da importação e da produção está acima da média da indústria. Estão incluídos têxteis, químicos, vestuário, borracha e plásticos.
'Nestes dois grupos, chama atenção a penetração dos produtos importados', diz Mol. Para a CNI, são fortes os indícios de substituição de produtos fabricados no Brasil por produtos importados.
O último bloco é formado por sete setores com crescimento tanto da produção interna quanto das importações. Embora as importações cresçam a um ritmo mais intenso que a produção - à exceção de metalurgia básica -, a CNI identifica uma complementaridade do crescimento ou a substituição mais difícil dos produtos nacionais por importados. Entre esses setores estão: máquinas e equipamentos, móveis, automóveis, alimentos e bebidas.
A CNI argumenta que o quadro torna imprescindível a redução dos custos de produção para contrabalançar a perda de competitividade provocada pela taxa de câmbio desfavorável. E sugere medidas como redução de impostos e melhoria do ambiente de negócios.
'Como ninguém espera que a valorização do real vá se reverter, o governo deveria reduzir o custo da produção', defende Mol. O estudo destaca o setor de equipamentos de informática como 'exemplo emblemático' de desoneração tributária bem-feita. Foi o único em que a importação caiu e a produção nacional aumentou.