Título: Acusado de comandar esquema doou a petistaf
Autor: Auler, Marcelo
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/07/2007, Nacional, p. A4

Castanheira figura nas contas de campanha de Carlos Santana como doador de R$ 50 mil

Identificado e preso pelo Ministério Público e pela Polícia Federal como principal ligação entre os dois esquemas de fraude desmantelados ontem pela Operação Águas Profundas, Ruy Castanheira de Souza figura nas contas de campanha do deputado Carlos Santana (PT-RJ) como doador de R$ 50 mil. A quantia foi doada em 26 de outubro de 2006, de acordo com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Àquela altura, o nome de Castanheira já aparecera vinculado ao escândalo das organizações não-governamentais (ONGs) que receberam dinheiro do governo do Estado durante a gestão de Rosinha Garotinho (PMDB). Essas ONGs tinham diretores em comum com empresas que doaram recursos para a pré-campanha de Anthony Garotinho à Presidência da República.

Santana negou conhecer o financiador. ¿Não tenho nenhuma relação com essa pessoa, não sei quem é¿, disse ele ao Estado. ¿Se está na lista de doadores, é porque doou, dentro da lei. Mas não sei quem pode ter conseguido essa colaboração. Não sei de onde veio, não tenho lembrança desse nome, Ruy Castanheira. Nadinha, nadinha.¿

ASSESSOR

De acordo com a Polícia Federal, contudo, há a suspeita de envolvimento de um assessor de Santana com Castanheira. O delegado Cláudio Nogueira não revelou o nome desse assessor do deputado, mas confirmou a realização de busca e apreensão na casa dele. Suspeita-se que por seu intermédio Castanheira tenha feito a doação de R$ 50 mil para a campanha de Santana.

¿Castanheira seria o operador do esquema que viabilizaria a movimentação clandestina de recursos por meio de empresas fantasmas e laranjas¿, explicou o procurador da República Carlos Alberto Aguiar. Ele revelou que foram encontrados na casa do preso R$ 500 mil. ¿Não me surpreende haver apreensão dessa quantia, já que era comum, como se pôde verificar, transações de altas somas de forma clandestina.¿

Por meio da investigação sobre Castanheira, a Polícia Federal chegou ainda a Ricardo Secco, pai da atriz Débora Secco, que foi preso ontem. O procurador Carlos Aguiar admitiu que o nome de Secco não aparece nas diretorias das ONGs envolvidas, mas é nítida sua influência sobre elas. Algumas das entidades receberam ajuda financeira do governo de Rosinha mediante convênios assinados sem concorrência.

FANTASMAS

Agora a Polícia Federal constatou que para fazer as prestações de contas do dinheiro recebido pelas ONGs, Secco recorria a Castanheira, que oferecia notas e contratos fraudulentos de algumas das empresas fantasmas que mantinha.

Essas ONGs tinham dirigentes em comum com empresas que apareceram como doadoras da pré-campanha à Presidência de Garotinho. Em abril do ano passado, o escândalo levou o ex-governador a uma greve de fome. As ONGs tinham contratos milionários com o governo de Rosinha, sua mulher. Por meio da Fundação Escola de Serviço Público, foram repassados, sem licitação, R$ 112 milhões, entre 2003 e 2006, para a prestação de serviços controversos. O Tribunal de Contas do Estado do Rio apontou irregularidades nos contratos.