Título: Pressionado pelo Planalto, Renan recua e não preside votação da LDO
Autor: Rosa, Vera e Leal, Luciana Nunes
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/07/2007, Nacional, p. A4
Proposta é aprovada em sessão conjunta em que a oposição se comprometeu a não atacar senador ausente
Sob pressão do Palácio do Planalto, preocupado em impedir que a crise política contaminasse a votação da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), cedeu e não presidiu a sessão de ontem do Congresso. A discussão foi conduzida pelo primeiro-vice-presidente da Câmara e do Congresso, Nárcio Rodrigues (PSDB-MG). A oposição respeitou acordo para não atacar o ausente Renan e a LDO acabou aprovada, liberando o Congresso para entrar em recesso na próxima semana.
O governo mobilizou ministros, líderes do governo e parlamentares da base aliada para dissuadir Renan. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva também conversou com ele em duas ocasiões, a última vez, no Planalto, uma hora antes da sessão de votação da LDO. Lula lhe teria dito estar convencido de que a oposição e a mídia queriam derrubá-lo. Mais: que seria melhor se preservar para poupar o governo.
O ministro das Relações Institucionais, Walfrido Mares Guia, chamou logo cedo para seu gabinete o presidente do PMDB, deputado Michel Temer (SP), o líder do governo na Câmara, José Múcio (PTB-PE), a senadora Roseana Sarney (PMDB-MA), líder do governo no Congresso, e seus colegas Paulo Bernardo (Planejamento) e Luiz Dulci (Secretaria-Geral da Presidência). A conversa tratou da frágil situação de Renan - acusado de ter despesas pessoais pagas por lobista de uma empreiteira -, da agenda de votações no Congresso, da insatisfação do PMDB com a demora nas nomeações em estatais e da ameaça da oposição de atazanar o Planalto.
Na noite de terça-feira, Lula também já havia conversado por telefone com Renan sobre o assunto. Diplomático, mostrou-se solidário e aconselhou-o, de forma cautelosa, a não entrar em confronto com a oposição.Mencionou a preocupação com a votação da LDO. Renan disse a Lula que está sendo ¿vítima¿ de uma campanha orquestrada pela oposição para atingir o governo - argumento novamente repetido no encontro de ontem.
O temor de que a crise atravesse o Congresso e suba a rampa do Planalto, prejudicando votações de interesse do governo vem sendo manifestado há mais de uma semana. Emissários de Lula têm falado freqüentemente com o presidente do Senado para monitorar suas reações. Reservadamente, auxiliares de Lula afirmam que o governo enfrenta situação delicada na crise: não pode provocar a ira de Renan nem do aliado PMDB, mas também não quer promover novas manifestações de apoio. Nos bastidores do Planalto, o comentário é de que a sobrevivência de Renan é cada vez mais difícil.
Mares Guia negou que tenha pedido ajuda de líderes para convencer Renan. ¿O que eu pedi foi quórum para votar a LDO¿, disse. ¿Renan tem a nossa solidariedade.¿ Temer adotou o mesmo tom. ¿Esse assunto não foi tratado dessa forma: a preocupação do governo era exclusivamente votar a LDO e nós sabíamos que, se Renan estivesse lá, o Congresso viraria um circo.¿
Depois da conversa no gabinete de Mares Guia, porém, Temer e Múcio entraram em campo e chamaram Renan. Os deputados argumentaram com ele que levar a crise do Senado para a Câmara seria ainda mais prejudicial e lembraram o risco de que centenas de deputados reagissem ostensivamente à sua presença na cadeira de presidente da sessão conjunta. Pesaram os riscos de desgaste à imagem do Congresso, caso houvesse protesto no plenário da Câmara.
¿Houve disposição de Renan em colaborar¿, contou Temer. ¿O senador Calheiros teve espírito público e pensou no País¿, elogiou Múcio. De lá, a dupla se reuniu com Chico Alencar (PSOL-RJ) e Fernando Gabeira (PV-RJ), dois dos principais articuladores do protesto contra Renan e negociaram o cessar-fogo, também costurado por Roseana.
¿Dissemos que, se ele ficasse 30 segundos, já teria reação¿, lembrou Alencar. ¿Pediram para que a gente não aproveitasse a ausência para tripudiar. Achamos que poderíamos conduzir tudo de forma mais cordial. O bom senso está começando a aflorar¿, comentou Gabeira.
A oposição cumpriu o pacto de não-agressão e aprovou o texto base da LDO em votação simbólica, com o plenário praticamente vazio. ¿O fato de o Renan não aparecer à sessão é confissão de que não tem a menor condição de conduzir o Senado¿, analisou Jefferson Peres (PDT-AM).
FRASES
Walfrido Mares Guia Ministro das Relações Institucionais
¿O que eu pedi foi quórum para votar a LDO¿
Michel Temer Presidente do PMDB
¿Nós sabíamos que, se Renan estivesse lá, o Congresso viraria um circo¿
Fernando Gabeira Deputado (PV-RJ)
¿Eles pediram para a gente não tripudiar¿