Título: Impasse com fabricantes de equipamentos preocupa Aneel
Autor: Pereira, Renée e Goy, Leonardo
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/07/2007, Economia, p. B6

Maioria dos fornecedores de turbinas e geradores já fechou acordo com a Odebrecht

O diretor-geral da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), Jerson Kelman, afirmou ontem que, se a disputa pelas usinas do Rio Madeira vier a ser prejudicada por conta de dificuldades das empresas em encontrar fabricantes de equipamentos, o governo terá de acionar os órgãos de defesa da concorrência para interferir.

Kelman fez a afirmação ao ser questionado sobre as preocupações de empresas, como a Camargo Corrêa, que estariam tendo dificuldades para fazer cotações com os fabricantes de equipamentos de usinas, já que boa parte deles já assinou acordo com a Odebrecht, empresa que também disputará a concessão das usinas. 'É preocupante. Se houver algum tipo de ação que prejudique a competição, penso que o governo terá de interferir, através dos órgãos capazes de garantir a competição', disse Kelman.

Para o fornecimento das turbinas bulbo, geradores e equipamentos associados, a Odebrecht firmou acordo com Alstom, Voith Siemens e VA Tech. Para a fabricação dos demais equipamentos eletromecânicos necessários à construção das usinas, a empresa se associou a Siemens, ABB e Areva. Cada hidrelétrica precisará de 44 turbinas bulbo, específicas para rios de baixa queda e alta vazão.

O diretor da Odebrecht Investimentos em Infra-Estrutura, Irineu Meireles, garante que as negociações foram feitas dentro das melhores práticas comerciais. Ele destaca ainda que o acordo de confidencialidade e exclusividade foi necessário por causa da necessidade de troca de informações confidenciais e estratégicas para a participação na licitação.

O executivo argumenta que, além de Tucuruí e Itaipu, outros empreendimentos menores já fizeram acordos semelhantes e não provocaram nenhum tipo de problema para os demais concorrentes, como são os casos das hidrelétricas de Estreito, Capim Branco e Itá. 'Nem a concessionária poderia conceber a concentração do risco de fornecimento nas mãos de um único player nem o fornecedor assumiria o risco de entrega tão volumosa de forma isolada e com comprometimento quase total de sua capacidade.'

Em entrevista concedida terça-feira ao Estado, o diretor da Amazônia Madeira Energética (Amel), João Canellas de Mello, da Camargo Corrêa, que também vai disputar o leilão, reclamou da dificuldade de encontrar fornecedores no mercado e levantou a possibilidade de ter de importar os equipamentos, o que elevaria o custo da energia. O executivo pediu uma solução por parte do governo.

Meireles não concorda com a reclamação de Canellas de que há dificuldade para encontrar equipamentos no mercado. Segundo ele, há diversas empresas no ambiente interno e externo aptas a fabricar as turbinas e equipamentos nos mesmos moldes dos parceiros da Odebrecht. Entre as companhias que têm fábrica no Brasil, ele cita GE Hydropower Inepar, IESA, Bardella, Usinas Mecânica, Dedini, Núcleop e Weg Máquinas.

MAIS CONCORRENTES

Além de Odebrecht e Camargo Corrêa, a usina de Santo Antônio será disputada pelo grupo Suez, conforme já foi antecipado pelo Estado. A informação foi confirmada ontem pelo diretor da empresa, Victor Paranhos. Segundo ele, a Suez vai disputar o leilão sozinha e só depois, caso seja vencedor, vai buscar sócios estratégicos e no próprio mercado financeiro. Ele prevê que a nova empresa será até mesmo listada no Novo Mercado, da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa).

O executivo não vê problemas no acesso a turbinas e outros equipamentos para o projeto. 'Se não houver turbinas nacionais, vamos comprar de fabricantes chineses, russos ou japoneses.' Paranhos lembrou que o grupo fez uma grande licitação para o projeto de Estreito, com potência de 1.087 MW na divisa de Tocantins com o Maranhão, e tem informações detalhadas e recentes sobre os custos de engenharia e de equipamentos. Além disso, o Suez tem usinas em diversos países e, conseqüentemente, contato com muitos fornecedores.