Título: Entrada de dólares chega a US$ 51,6 bi no 1º semestre
Autor: Freire, Gustavo
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/07/2007, Economia, p. B9

Valor supera em 38,5% o do mesmo período do ano passado; previsão é de US$ 80 bilhões até o fim do ano

A entrada de dólares no País alcançou a marca dos US$ 51,627 bilhões no primeiro semestre. Divulgado ontem pelo Banco Central (BC), o valor supera em 38,5% os US$ 37,270 bilhões recebidos no ano passado, quando o volume de moeda estrangeira atingiu recorde. O aumento do fluxo de moeda estrangeira é uma das conseqüências da política monetária e cambial, que tem provocado críticas como a do governador de São Paulo, José Serra, para quem o País vive um 'desvario cambial' (ver repercussões abaixo).

Para os próximos meses, a expectativa do mercado financeiro é de continuidade de um forte ritmo de entrada de capitais externos. 'Para o ano fechado, trabalhamos com uma estimativa de US$ 80 bilhões de fluxo de dólares para o País', disse a economista-chefe da Mellon Global Investment, Solange Srour. Por essa hipótese, ainda entrarão mais US$ 28,3 bilhões até o fim do ano - média de cerca de US$ 4,7 bilhões por mês.

Nesse cenário, as reservas internacionais, segundo Srour, poderão fechar o ano em torno dos US$ 190 bilhões. Na última terça-feira, as reservas romperam a barreira dos US$ 149 bilhões e chegaram a US$ 149,324 bilhões. Para analistas de mercado, elas poderão chegar aos US$ 150 bilhões ainda nesta semana, ficando próximas dos US$ 166 bilhões de dívida externa de médio e longo prazos estimada para o fim do ano.

'Pelo lado das contas externas, já poderíamos ser classificados como investment grade. O que falta ainda são melhoras na área fiscal, como a redução da dívida líquida do setor público e da carga tributária', disse a economista da Mellon Global.

Em junho, o fluxo de moeda estrangeira no País bateu recorde mensal e atingiu os US$ 16,561 bilhões. Contribuíram para o resultado operações de aproximadamente US$ 5 bilhões de compra das participações minoritárias da Arcelor Brasil pela siderúrgica Mittal Steel e a aquisição da Serasa para o grupo irlandês Experian por cerca de US$ 1,5 bilhão.

'Tivemos ainda em junho quatro lançamentos primários de ações na Bovespa', comentou a economista da Mellon Global. Nessas operações, a maior parte das ações é adquirida por estrangeiros. 'Nas próximas três a quatro semanas, devemos ter uma entrada de cerca de US$ 6 bilhões por causa de novos lançamentos primários de ações', disse uma fonte do mercado financeiro.

Pelo lado do comércio externo, a entrada de dólares dos exportadores bateu recorde em junho e chegou aos US$ 17,572 bilhões. 'As contratações de câmbio voltaram a ficar muito descoladas das exportações efetivas (que em junho foram de US$ 13,119 bilhões)', destacou Srour. O diferencial indica, de acordo com a economista da Mellon Global, que os exportadores resolveram antecipar o recebimento de dólares obtidos com a venda de seus produtos e convertê-los em reais.

Em meio a essa avalanche de dólares, o BC reduziu as compras de dólares em junho. 'O volume diário caiu de aproximadamente US$ 680 milhões para cerca de US$ 400 milhões em junho', disse um operador do mercado de câmbio. Com isso, o total de compras efetuadas pela mesa de câmbio do BC recuou dos US$ 15,218 bilhões de maio para US$ 8,049 bilhões.

'O BC tirou a mão em junho por causa do aumento da volatilidade nos mercados gerado pela elevação dos juros dos títulos do tesouro americano (no pico, chegou a 5,3% ao ano) e por incertezas no mercado de crédito dos EUA', disse uma fonte do mercado financeiro. Por causa do ambiente mais nervoso, em junho o real teve uma pequena desvalorização, de 0,21%.