Título: Mantega insiste em meta de 4,5% e culpa o mercado por confusão
Autor: Graner, Fabio e Fernandes, Adriana
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/07/2007, Economia, p. B14

'Banco Central mira centro da meta, mas, se puder fazer inflação menor, terá nosso apoio', diz ministro

Irritado com a polêmica em torno da meta de inflação para 2009, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, resolveu partir para o ataque. Em entrevista coletiva ontem, ele foi enfático ao dizer que o Banco Central (BC) deve mirar os 4,5% definidos pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) e afirmou que a confusão em torno da meta está na cabeça de alguns analistas do mercado financeiro.

'(A decisão sobre a meta) não gera confusão. Quem gera confusão talvez sejam alguns analistas de mercado. Nós deixamos muito claro: a meta é 4,5%. O sistema é o mesmo e a política monetária também é a mesma. O BC mira o centro da meta, mas, se ele puder fazer inflação menor, terá o nosso apoio. Essa é a nossa orientação', afirmou Mantega. 'Na verdade, em relação ao sistema de metas, não muda absolutamente nada.'

No fim de junho, ao anunciarem a meta de inflação para 2009, integrantes do CMN, incluindo o próprio Mantega, disseram que o BC estava autorizado a perseguir uma taxa de 4% naquele ano, como já vinha sendo projetado pelo mercado.

Ontem, o ministro rebateu ainda a tese de que a decisão de fixar a meta em 4,5%, acima das previsões do mercado, tenha elevado as taxas de juros de longo prazo. 'Isso não é verdade. Tenho gráficos mostrando que, depois que tomamos a decisão, as taxas dos títulos se reduziram', afirmou Mantega, que até o fechamento desta edição não havia divulgado os dados.

O ministro ponderou que o mercado de juros tem tido oscilações oriundas do cenário externo, com os problemas no setor habitacional nos Estados Unidos e do aumento da inflação naquele país e na Europa. 'Mesmo assim, a trajetória é de queda. As taxas de 2010 têm caído. Não me venham com esse argumento', disse.

MAROLA

As declarações mais enfáticas de Mantega revelam a visão de uma ala da equipe econômica de que o mercado financeiro está fazendo 'marola' em torno da meta.

Segundo assessores do ministro ouvidos pelo Estado, Mantega considera que alguns analistas tentam manipular as informações para evitar que os juros caiam mais rapidamente. Essa ala está convencida de que a aceleração da queda dos juros ocorrerá tão logo passe essa instabilidade.

'Há uma certa tensão, mas o motivo é que o mercado ganha com os juros altos, vive disso', apontou um assessor de Mantega. Segundo essa análise, estaria havendo 'má fé' para que a informação de que o governo quer uma inflação maior seja aceita como verdadeira. 'O BC vai perseguir a menor inflação possível', disse o assessor.

Segundo os assessores do ministro, o governo não vai explicitar num documento a fixação de uma meta menor de inflação para 2009 a ser perseguida pelo BC, conforme rumores que circularam nas últimas semanas. 'Não vai ter nenhuma mudança. A orientação do presidente Lula foi de uma meta de 4,5%. O resto é marola', disse uma fonte.

Na entrevista de ontem, o ministro não descartou que depois de 2009 a meta possa ser menor, embora continue tendo um centro numérico.

'Até 2009 as metas estão definidas. A partir de 2009, se consolidarmos essa inflação mais baixa, que está dada hoje no País, nada impede que, depois de discussões e decisões do CMN, nós possamos estabelecer metas menores. É claro que queremos que a inflação seja mais baixa', concluiu Mantega.