Título: Rivais ameaçam Argello com dossiê
Autor: Nossa, Leonencio
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/07/2007, Nacional, p. A7

Caso o suplente decida assumir a vaga deixada por Roriz, papéis serão entregues ao corregedor do Senado

A ponto de ocupar uma vaga no Senado, o corretor de imóveis Gim Argello (PTB-DF), suplente do ex-senador Joaquim Roriz (PMDB-DF), nunca esqueceu as origens profissionais nos oito anos de vida pública. Como deputado distrital por dois mandatos, apresentou 278 projetos de lei para alterar as regras do Plano Diretor de Ordenamento Territorial do Distrito Federal e acabou envolvido em uma série de escândalos de venda e compra de lotes em áreas públicas. Argello conseguiu aprovar 25 dessas propostas - que acabaram beneficiando amigos e aliados, segundo seus rivais.

Adversários de Argello afirma que têm um dossiê de 37 páginas com acusações e vão entregá-lo ao corregedor do Senado, Romeu Tuma (DEM-SP), caso ele decida mesmo tomar posse no lugar de Roriz, que renunciou na semana passada. A Operação Aquarela, da Polícia Civil, também investiga o envolvimento do suplente no esquema de desvio de recursos do Banco de Brasília (BRB). Foram as suspeitas de envolvimento com esse esquema que levaram à renúncia do peemedebista.

Argello está na mira do Ministério Público desde 1999, quando teria começado um esquema envolvendo parlamentares, funcionários do Executivo, empreiteiros e donos de postos de gasolina para aprovar o uso de áreas públicas da capital pela iniciativa privada. O esquema teria durado até o fim de 2002.

A máfia conseguiu, segundo denúncias de procuradores, transformar áreas destinadas a parques em postos de gasolina, lojas comerciais e igrejas evangélicas. O suplente também foi citado no relatório de uma CPI instalada há cinco anos na Câmara Distrital para investigar denúncia de pagamento de propinas a deputados e assessores de Roriz em troca de regularização de condomínios.

TERRENO

No ano passado, Argello foi um dos autores de um projeto que mudava a destinação de um lote de 80 mil metros quadrados no bairro Sudoeste. Originalmente, nele seria construído um centro de treinamento. Com a mudança, o terreno pode ser usado para diferentes tipos de comércio. O deputado Wigberto Tartuce, amigo de Argello, tinha comprado o lote por R$ 15,2 milhões e revendeu-o por R$ 47 milhões um ano depois.

O suplente teria começado a vida profissional como aprendiz de corretor do ex-deputado Sérgio Naya, afastado da Câmara com o desmoronamento do Edifício Palace 2, em 1998, no Rio. Depois começou a atuar como corretor de imóveis em Taguatinga. Com ajuda de empresários influentes, conseguiu financiar duas candidaturas à Câmara, mas não se elegeu. Teve êxito na terceira tentativa. No ano passado, disputou a eleição como suplente de Roriz.

No caso do suposto esquema de mudanças na ocupação territorial de Brasília, Argello é acusado de fraudar a tramitação de projetos de lei no período em que foi presidente da Câmara Distrital, incluindo emendas fantasmas em projetos já aprovados. Procuradores de Brasília começam a investigar ainda a suspeita de que também teria vendido a uma entidade estrangeira a concessão de uma rádio na periferia de Brasília.

Advogado de Argello, o ex-ministro do Supremo Tribunal Federal Maurício Corrêa diz que os processos na Justiça não impedem que seu cliente assuma a vaga no Senado. Para Corrêa, não há provas contra ele.

Sobre os projetos de Argello na Câmara, rebateu: ¿Quem na Câmara não apresentou projetos nesse sentido? Não há nada demais.¿ O ex-ministro explicou que o suplente só não assumiu ainda a vaga no Senado por problemas de saúde.