Título: Governo vai dar R$ 1 bi para programa nuclear da Marinha
Autor: Tomazela, José Maria
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/07/2007, Economia, p. B4

Investimento poderá servir ao projeto de um submarino atômico

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciou ontem a liberação de R$ 1,04 bilhão para o programa nuclear da Marinha, durante visita ao Centro Experimental Aramar (CEA), em Iperó, a 125 quilômetros de São Paulo. Conforme antecipou o Estado, a verba será liberada em oito anos, em parcelas anuais de R$ 130 milhões. Segundo o comandante da Marinha, almirante Júlio Soares de Moura Neto, o programa sofreu atraso de dez anos por falta de recursos.

'Estamos confiantes de que vamos tirar esse atraso', disse Moura Neto. A verba corresponde à metade de tudo o que já foi gasto desde o início do programa, em 1979 - segundo a Marinha, foram R$ 2,1 bilhões. O dinheiro será aplicado prioritariamente na instalação e testes do reator nuclear brasileiro.

Moura Neto destacou a 'dualidade' do projeto. Segundo ele, com a tecnologia desenvolvida para fabricar o reator, o País se habilita tanto para a construção de pequenas centrais nucleares como para fazer um submarino atômico.

Numa evidência de que o interesse do presidente Lula pelo programa da Marinha está relacionado com a retomada do projeto da Usina Nuclear de Angra 3, o almirante deixou claro que a prioridade, agora, é a produção de energia. 'O submarino é um passo seguinte, mas não há decisão, ainda, do governo de que vamos construir.' Parte das peças, como o vaso do reator, já foi produzida e está guardada, em embalagens especiais, num dos prédios do CEA.

Para montar o equipamento, a Marinha precisa construir o Laboratório de Geração Eletro Nuclear (Labgene). O presidente viu ontem apenas as fundações do prédio. O reator de água pressurizada, com potência de 48 megawatts, é um protótipo do que vai equipar o submarino e poderá ser usado para treinar os técnicos que vão operar Angra 3. Esse treinamento hoje é dado no exterior.

A Marinha espera concluir também o ciclo do combustível nuclear, que avançou pouco, desde que foi anunciado, em 1988, o domínio do enriquecimento de urânio. Hoje, a tecnologia das ultracentrífugas desenvolvidas no centro de Iperó permite o enriquecimento a um teor de 20%. 'Estamos enriquecendo a 4% porque é o teor usado em centrais nucleares como as de Angra', disse o almirante.

O centro de Iperó também investe na melhoria dos equipamentos: uma nova geração de ultracentrífugas, 40% mais eficientes que as atuais, será lançada em 2008.

O CEA esteve a ponto de ser desativado, há cinco anos. As verbas ficaram mais escassas durante o governo de Fernando Henrique Cardoso. O grupo de físicos e engenheiros que constituía o 'cérebro' da unidade debandou. O número de funcionários, que chegou a 800, caiu pela metade.

Moura Neto estava otimista após a visita de Lula. 'O presidente tomou a decisão, hoje, de terminar o programa nuclear.' O presidente da Eletronuclear, Othon Pinheiro, vice-almirante que dirigiu Aramar durante 15 anos, até passar à reserva, retornou a Iperó pela primeira vez com a comitiva de Lula. 'Vim porque tenho esperança', disse Pinheiro.