Título: Senado quer explicações sobre meta paralela de inflação
Autor: Oliveira, Ribamar
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/07/2007, Economia, p. B5

Audiência pública em agosto poderá ter integrantes da Fazenda e do BC

A polêmica em torno da meta de inflação para 2009 chegou ao Senado. Ontem, por sugestão do líder do PSDB, senador Arthur Virgílio (AM), a Comissão de Assuntos Econômico (CAE) decidiu debater o assunto, em audiência pública marcada para o início de agosto, logo após o recesso parlamentar.

A lista com os nomes dos especialistas a serem convidados ainda não foi definida, mas poderá incluir representantes do Ministério da Fazenda e do Banco Central. O assunto causa controvérsia também na CAE. O líder do PSDB atacou a decisão do Conselho Monetário Nacional (CMN) de manter em 4,5% a meta de inflação para 2009. Ele preferia que a meta fosse reduzida para 4%.

'Estava confortável fazer 4%', disse. Já o presidente da CAE, senador Aloizio Mercadante (PT-SP), é favorável à decisão do CMN. 'Esse é o tipo de debate que precisa ser realizado', apoiou Mercadante.

Com a decisão do CMN, o governo sinalizou que aceita mais inflação, segundo Arthur Virgílio, pois a estimativa do próprio mercado é de 4% para 2008 e 2009. 'Foi uma pisada na bola', afirmou.

O líder tucano criticou o presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles, por ter aceito a meta de 4,5%, mesmo achando que ela deveria ter sido fixada em 4%. 'A decisão abala a credibilidade do Banco Central e da política de metas para a inflação, duramente conquistada nos últimos anos', disse. 'Não se pode brincar com meta paralela, pois todo mundo quer saber qual é a meta verdadeira que será perseguida pelo BC', observou.

O senador Mercadante disse que, na prática, o Banco Central já não persegue o centro da meta de inflação há muito tempo. 'Durante mais de um ano, o BC não cumpriu a meta fixada pelo Conselho Monetário, pois, nesse período, a inflação ficou sempre abaixo da meta', argumentou.

Para Mercadante, 'está provado que o Banco Central tem uma meta oculta' e a persegue independentemente da meta fixada pelo CMN. O presidente da CAE disse que a redução da meta de inflação ocorrida em 2005, quando ela foi fixada pela primeira vez em 4,5%, 'levou a uma elevação da taxa de juro pelo BC que prejudicou a retomada do crescimento'.

SEM META

O receio do senador era que o mesmo acontecesse agora, caso a meta fosse reduzida para 4%. Mercadante considera que o Brasil caminha para uma política sem meta central, com o Banco Central passando a trabalhar no intervalo de tolerância, como já ocorre em outros países.Atualmente, a inflação pode ficar, teoricamente, no intervalo de 2,5% a 6,5%.

O senador Eduardo Suplicy (PT-SP) chegou a propor que o debate sobre a meta de inflação fosse feito na próxima audiência pública com o presidente do Banco Central. A cada três meses, a CAE realiza uma sabatina do presidente Henrique Meirelles sobre os assuntos econômicos.

O senador Virgílio não aceitou a proposta, argumentando que é preferível que a audiência seja marcada com a finalidade única de discutir a política de metas para a inflação. Segundo ele, o Ministério da Fazenda e o Banco Central poderão mandar representantes.

'Precisamos saber quais são os argumentos favoráveis aos 4,5% e quais os argumentos a favor dos 4%', disse. O líder tucano sugeriu convidar o economista Dionísio Dias Carneiro, da PUC-Rio, para participar dos debates